Título: Racha entre Renan e Temer pode levar prévia do PMDB a ser adiada
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2005, Política, p. A8

O presidente do Senado, Renan Calheiros, assegurou ontem que "não há divergência no PMDB em relação à candidatura própria à Presidência da República" em 2006. "O que há é divergência em relação a nomes", afirmou. Renan, no entanto, admitiu que a Executiva Nacional do partido pode adiar a prévia para a escolha do candidato prevista para março, se isso vier a ser julgado conveniente pela sigla. A realização das prévias foi um dos argumentos do grupo oposicionista para manter o ex-governador do Rio Anthony Garotinho no PMDB. O prazo de filiação para candidatos em 2006 se encerra hoje. Garotinho informou à direção da legenda que permanecerá no partido e que se inscreverá nas prévias no dia 18 de outubro. A maior parte dos caciques regionais do PMDB é contrária à candidatura dele. Renan conversou ontem com jornalistas, após passar as primeiras horas após a eleição na Câmara evitando comentar a acusação de traição feita a ele pelo presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP). A atuação de Renan em favor da candidatura de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), quando o partido tinha Temer como candidato, lançou dúvidas sobre a sinceridade do grupo governista em apoiar a candidatura própria e a prévia. O presidente do Senado tentou evitar falar sobre Temer, mas, pressionado, respondeu que o presidente do PMDB estava apenas "procurando um culpado para explicar o fracasso" de sua candidatura à presidência da Câmara. "Ele sabe disso". Disse que, "se há uma coisa de que não posso ser acusado, é a de não ter lado". Assegurou que esteve ao lado de Temer e evocou os testemunhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro Antonio Palocci (Fazenda) e do deputado Jader Barbalho (PA). Na quarta-feira da semana passada, contou Renan, ele, Jader, Geddel Vieira Lima (BA), Moreira Franco (RJ) e o próprio Temer acertaram, durante almoço em sua casa, que o PMDB poderia sair unido com a candidatura do deputado paulista. Renan ficou de procurar o PFL, o PSDB e o presidente Lula para negociar apoios. À noite esteve no Palácio do Planalto, onde encontrou Lula na companhia do ministro Palocci. O presidente, segundo Renan, foi receptivo, apenas perguntou se ele, Renan Calheiros, lembrava "da foto". Lula referia-se à fotografia da reunião que teve com Temer para decidir a ampliação do espaço do PMDB no ministério - o deputado, que cobrara uma conversa institucional, teria negociado a reforma com o presidente, mas depois voltou atrás. Palocci teria apenas comentado, por duas vezes, que parecia que Renan havia convencido Lula a apoiar a candidatura Temer. Fontes ouvidas pelo Valor asseguram que Palocci foi contra desde o início. Ao sair do encontro, Renan tentou falar com Temer mas não conseguiu localizá-lo. Ligou então para Jader, fez um relato da conversa e pediu que Jader contasse a Temer, de vez que iria viajar. No dia seguinte, conseguiu contato com Temer quando se encontrava numa solenidade. Pediu que o deputado paulista conversasse com Jader (o deputado paraense disse que também não conseguiu contatar o colega). O problema, segundo Renan, é que Temer articulou o lançamento de sua candidatura, pela bancada, antes de ser definido o apoio de Lula e de outros partidos - o PFL avisou logo que apoiaria José Thomaz Nonô (AL). O fato é que já na quinta-feira Temer soube que o governo lançaria Aldo com o apoio de Renan. Em entrevista a uma rádio, declarou que se a notícia fosse verdadeira seria uma atitude "reles" do presidente do Senado. Renan ouviu a entrevista, se aborreceu, decidiu não procurar mais Michel Temer e entrou de cabeça na campanha de Aldo Rebelo. Renan acha que o incidente faz parte da cultura pemedebista. "A única coisa nova é a ofensa pessoal", diz. Antes Temer já divulgara uma nota, subscrita pelos governadores do partido, criticando Renan e Sarney por negociarem com o governo a reforma ministerial. Aliás, os ministros do partido já foram expulsos pelo menos duas vezes, sem conseqüência, como Renan julga que agora não haverá conseqüência nenhuma. A única conseqüência seria a demonstração de que Michel e o grupo oposicionista são minoritários no PMDB. Por essa razão é que Renan afirma que não há garantias da realização de prévia em março para a escolha do candidato. Isso porque a prévia foi marcada pela Comissão Executiva Nacional, que tem maioria governista. Assim, a mesma maioria que marcou pode adiar, mais adiante, se julgar conveniente para a oportunidade, sem que o grupo de Michel tenha maioria para evitar que isso ocorra. Renan nega que pense em ser candidato, nas eleições de 2006, a vice-presidente, pelo PMDB, na capa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Tenho senso do ridículo", disse.