Título: Verticalização adiou mudanças partidárias
Autor: César Felício, Cristiane Agostine, Thiago Vitale J
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2005, Especial, p. A14

A sobrevivência da regra da verticalização das coligações, que proíbe as alianças locais entre partidos com candidatos presidenciais diferentes, era o dado com que o mundo político não contava no momento em que se encerra o prazo para filiações partidárias com vistas às eleições de 2006. Como há uma emenda constitucional abolindo a regra em tramitação no Congresso, a verticalização poderá até cair nas próximas semanas, mas já será tarde para trocar de sigla. Além disso, não é pacífico do ponto de vista jurídico o entendimento que a emenda não precisaria obedecer ao prazo mínimo de um ano para uma norma eleitoral vigorar. No Brasil inteiro, lideranças estão dando saltos no escuro. O prazo para filiações acaba hoje.

Poderá vir de Goiás a filiação de maior impacto nesta sexta-feira: a do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no PTB, com o objetivo manifesto de se candidatar ao governo de Goiás no próximo ano. A filiação é esperada pelos petebistas goianos, mas não é confirmada por Meirelles. O presidente do BC deixa para o último instante sua decisão porque terá que fazer sua filiação em condições desfavoráveis para uma disputa no próximo ano. Ele está obrigado a se filiar agora se quiser concorrer, sem que esteja construída uma aliança tática entre o Planalto e o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, para que monte uma candidatura de união no Estado. A verticalização só piora as coisas e no grupo do governador candidaturas alternativas, como a do vice-governador Alcides Rodrigues (PP) já se articulam. O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, é um caso clássico de quem apostou até a última hora no fim da verticalização das coligações. O plano do governador capixaba é se filiar no PMDB e se coligar com o PSDB, algo que só será possível se a norma que proíbe alianças entre partidos que apóiam candidatos presidenciais diferentes cair. Como a resposta para isso só virá dentro de semanas, Hartung tem duas opções a fazer: ir para o PMDB mesmo e correr o risco de ver sua coligação com os tucanos inviabilizada ou buscar um partido que tenda a se ausentar da eleição presidencial, não lançando candidato e nem apoiando ninguém. O PTB pode ser esta sigla. A dúvida sobre a verticalização afeta ainda o destino do senador Delcídio do Amaral Gomes (PT-MS), presidente da CPI dos Correios e com grandes dificuldades para construir a sua candidatura ao governo estadual. Delcídio se indispôs com o governador José Orcírio (PT) e acertou com a cúpula do PSDB a sua transferência para a sigla. Mas os tucanos locais estão comprometidos com a candidatura ao governo do pemedebista André Puccinelli, algo inviabilizado com a manutenção da norma eleitoral atual, mas que renasce com força total se a verticalização cair. Sem garantias de qualquer lado, Delcídio aguardava ser chamado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma última conversa. Mesmo para quem pretenda concorrer ao Legislativo, "a verticalização colocou uma camisa de força em todo mundo", conforme definiu o senador Juvêncio da Fonseca, que foi do PDT para o PSDB do Mato Grosso do Sul. Juvêncio conta com a aliança com os pemedebistas para se reeleger em uma eleição difícil, já que terá que enfrentar o governador José Orcírio. Se a aliança não puder ser feita por causa da verticalização, seu nome se enfraquece. Mas o senador avaliou que o risco era muito maior permanecendo no PDT. O seu antigo partido estuda uma coligação com o PPS para lançar um candidato à Presidência, que poderão ser os pedetistas Cristovam Buarque, Alceu Collares e Jefferson Peres ou a do deputado Roberto Freire (PPS-PE). "Quem concorre pelo Legislativo em Estados pequenos fica em uma situação complicada, principalmente para a Câmara, onde se depende de quociente eleitoral", afirmou Juvêncio. O primeiro movimento relacionado às sucessões estaduais foi feito no início da semana, na Bahia, com a ida do ex-prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy, do PFL para o PSDB. O candidato do grupo carlista, o governador Paulo Souto (PFL), ganha assim dois consistentes adversários: além do neo-tucano, o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner (PT). No Tocantins, o governador Marcelo Miranda trocou o PSDB pelo PMDB ao romper com o grupo comandado pelo ex-governador Siqueira Campos, que controla a sigla tucana, por meio do filho, o senador Eduardo Siqueira Campos, que deverá ser o candidato ao governo estadual. A diáspora do PT para o Psol dá musculatura para a candidatura presidencial de Heloísa Helena em São Paulo. Candidato derrotado à presidência petista, o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio já afirmou que não recusará uma eventual candidatura ao governo estadual. (CF e CA)