Título: Troca de partidos enfraquece o governo
Autor: César Felício, Cristiane Agostine, Thiago Vitale J
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2005, Especial, p. A14

Eleições Assim como o PSDB há quatro anos, PT é o principal perdedor no fim do prazo para filiação partidária

Três anos depois da eleição de 2002, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atingiu picos de popularidade e prestígio político, os partidos chegam a um ano da sucessão com os sinais trocados: as siglas aliadas do governo perdem densidade enquanto a oposição, que minguou após a posse de Lula, recupera espaço. A sucessão presidencial e a expectativa de poder é que balizam o troca-troca partidário - hoje é o prazo final de filiação para os candidatos às eleições de 2006. Não é um movimento inédito. Um balanço preliminar mostra que, em comparação com o que ocorreu em 2001, o PT foi o partido que perdeu o maior espaço agora, da mesma forma como o PSDB do então presidente Fernando Henrique Cardoso foi o maior sacrificado há quatro anos. Há diferenças fundamentais - não havia em 2001 um escândalo político como o de hoje- mas também a desconfiança que em 2006 a oposição poderá ganhar. Na reta final de 2001, o PSDB perdeu dez deputados, três senadores e um governador. Na reta final de 2005, o PT perdeu até agora sete deputados e um senador. Com exceção dos fluminenses Miro Teixeira e André Costa e do senador Cristovam Buarque, que foram para o PDT, os demais migraram para o Psol da senadora Heloísa Helena. A onda de filiações de agora projeta para um 2006 mais fragmentado. Além do fortalecimento do Psol, que já está com dois senadores e sete deputados, surge o novíssimo Partido Municipalista Renovador, que com a filiação do vice-presidente José Alencar e do senador Marcello Crivella (RJ) deve mudar seu nome para Partido Republicano. Na oposição, o PFL mostra uma trajetória de retomada. Elegeu 84 deputados em outubro de 2002. No último 31 de agosto, tinha 58. Ontem, a liderança pefelista já contabilizava 63 deputados, com perspectivas de crescimento hoje, último dia de inscrições. O fenômeno se repetiu com o PSDB. O partido elegeu 70 deputados. Há um mês, tinha apenas 50. No fim da tarde de ontem, os tucanos computavam pequeno ganho de dois parlamentares e esperam mais adesões para o dia de hoje. O movimento dos deputados é cíclico diante do poderio do Palácio do Planalto. Os partidos ao redor da Presidência tendem a crescer no início da administração e a desidratar à medida que o governo se desgasta. O inverso acontece com a oposição. Com Lula, a diferença é que o desgaste veio no primeiro mandato. Entre as demais siglas governistas, perdem terreno os partidos que foram inflados no tempo em que a articulação política esteve a cargo do deputado José Dirceu (PT-SP). O PL, que elegeu apenas 26 deputados, chegou a ter 49 parlamentares e perdeu oito em um mês. O PTB elegeu os mesmo 26, chegou a 45 e ontem aparecia com 44. Quem cresce é o PSB. A sigla deu saltos em dois tempos. O primeiro deles há alguns meses, quando o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, antecipou a sua migração partidária para assinar a ficha no quarto do Hospital Esperança, onde Miguel Arraes, muito doente, pôde avalizar sua entrada na sigla. O segundo salto socialista aconteceu nos últimos dias, com o emagrecimento do PTB e do PL. Hoje entra no partido o governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, depois de uma breve passagem como petebista. Os socialistas foram de 16 para 28 parlamentares ao longo do ano. As novas "aquisições" animam o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). "Se chegarmos aos 30 parlamentares, teremos força para vencer a cláusula de barreira em 2006", disse, ao referir-se à necessidade de obtenção de 5% do total de votos nas próximas eleições, segundo a legislação eleitoral. Entre os envolvidos no escândalo do mensalão, o PP foge à regra. O partido está no centro da crise política, acabou de perder a presidência da Câmara dos Deputados, mas ainda assim cresceu nos últimos dias. Tinha 52 deputados há uma semana. Hoje tem 54. Em função de um episódio absolutamente fortuito, preservou filiado sua maior expressão eleitoral, ainda que decadente. Preso há três semanas em São Paulo, o ex-governador Paulo Maluf foi impedido, pelos fatos, de se filiar ao PTB como pretendia. Até o fim da tarde de ontem, havia ultrapassado os PSDB e ocupado a quarta colocação no ranking das maiores bancadas da Câmara. "Em alguns casos, as razões municipais falam mais alto do que a crise nacional para o parlamentar entrar ou sair de um partido. Para aqueles com bases no interior, a crise política tem menos peso e os votos são de natureza municipal", interpreta o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). Em seu estado, o PP recebeu a filiação do deputado João Leão, ex-PL. O parlamentar transitou de uma sigla controlada pelo carlismo para outra sigla que também fica sob a esfera do PFL local. O PMDB recuou na Câmara em relação ao que mantinha em fevereiro, mas a flutuação da sua bancada tem como motor principal a briga entre as alas oposicionista e governista do partido. Os pemedebistas elegeram 75 parlamentares em 2002. As duas alas incentivaram filiações ao longo do ano para tentarem controlar a liderança do partido na Câmara. Por isso, a sigla chegou a ter 91 deputados no começo do ano. Há um mês, tinham 85 e mantém o mesmo número. O partido perdeu quatro e recebeu quatro novos deputados. Mas o partido poderá voltar a perder a condição de maior sigla da Casa para o PT, caso o grupo comandado pelo ex-governador do Rio e presidenciável Anthony Garotinho (RJ) concretize um lance arriscado hoje. Com dificuldades para viabilizar seu nome dentro do PMDB como candidato à Presidência, já que não conta com a simpatia nem dos governadores da sigla, nem da ala oposicionista e muito menos da ala governista, Garotinho pode transferir a esposa, a governadora do Rio Rosinha Matheus, para o nanico PSC. Se Garotinho perder as prévias dentro do PMDB, Rosinha poderia ser lançada candidata à presidência pela nova sigla. Garotinho se tornaria candidato ao Senado ou à Câmara dos Deputados. Um dos coordenadores políticos de Garotinho, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) desmentiu de forma taxativa a estratégia. "Vocês vão ver só. A sexta-feira vai passar e nada vai acontecer", apostou ontem. Mas em outros gabinetes pemedebistas, a saída de Rosinha e de quatro parlamentares da sigla ligados a Garotinho para o PSC era dada como certa.