Título: Volks enfrenta onda grevista nas fábricas do ABC e de Taubaté
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2005, Empresas &, p. B6

Veículos Trabalhadores querem PLR maior e dizem que a meta de produção de carros está exagerada

A maior montadora do país voltou a ser paralisada ontem. Desta vez, além de reivindicar o pagamento de participação nos lucros (PLR) e resultados maior do que o oferecido pela empresa, os empregados da Volkswagen argumentam que o volume de produção programado pela montadora para o ano é "impossível" de ser atingido. A greve começou ontem na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), a maior da montadora, onde trabalham 12,4 mil empregados. Uma assembléia à tarde decidiu manter o movimento por tempo indeterminado. No interior do Estado, em Taubaté, outra assembléia decidiu também por uma greve a partir de terça-feira, dia seguinte a um feriado local. Com 5 mil empregados, a fábrica de Taubaté concentra a produção da linha Gol. A perda para a Volkswagen, que confirmou a paralisação no ABC ontem, é de 900 veículos por dia em cada uma dessas fábricas. O impasse nas negociações, que começou com o pagamento do PLR , dura dois meses. A Volks ofereceu R$ 4.664. Mas os trabalhadores querem R$ 5,5 mil, usando como referência os valores já acertados em outras montadoras da mesma base sindical. O PLR ficou em R$ 6,2 mil na DaimlerChrysler, em R$ 6 mil na Scania e R$ 5 mil, na Ford. As três empresas têm fábricas em São Bernardo do Campo. Em Minas Gerais, a Fiat informou que pagou R$ 1,3 mil a título de adiantamento de PLR, que deverá chegar a aproximadamente o dobro desse valor. O PLR, de mais de R$ 4 mil, também já foi acertado na General Motors, segundo sua assessoria. No caso da fábrica de São Bernardo do Campo, o impasse não se limita à remuneração. Segundo informações do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, os trabalhadores dizem ser impossível a meta fixada pela montadora de produzir 217 mil veículos neste ano. Seria, segundo a entidade, necessário cancelar férias coletivas e aumentar o número de horas extras para chegar, no máximo, a 206 mil unidades. A produção na fábrica do ABC, onde a greve prejudica, inclusive os embarques do Fox para a Europa, um dos mais importantes contratos de exportação da montadora, já foi paralisada há uma semana. Numa espécie de "advertência", a linha parou durante um dia. Há três meses, a mesma fábrica enfrentou uma greve em que os empregados pediam a abertura de mais vagas para atender ao aumento da produção. Na época, a empresa emitiu um comunicado em que dizia "não compartilhar do entendimento do sindicato e da representação interna de empregados quanto à necessidade de novas contratações". Não é de hoje que a fábrica da Volks de São Bernardo do Campo é palco de confrontos trabalhistas. A história recente mostra três executivos que assumiram o comando da montadora tendo como um dos objetivos resolver problemas com os empregados dessa unidade. Durante a gestão do austríaco Herbert Demel, que esteve na presidência da empresa até outubro de 2002, o sindicato do ABC conseguiu fechar com a matriz da companhia, na Alemanha, um acordo de estabilidade de cinco anos, que se encerrará no próximo ano. Na seqüência, o inglês Paul Fleming, numa passagem meteórica pelo cargo, tentou solucionar o problema de excesso de pessoal em meio a um acordo de estabilidade. Lançou a Autovisão, uma empresa criada para treinar os trabalhadores excedentes para buscar outros empregos no mercado. No início de 2004, o posto foi assumido pelo engenheiro alemão Hans-Christian Maergner, conhecido no mercado como um executivo hábil na solução de problemas.