Título: Mercado aprova modelo da agência
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2005, Empresas &, p. B8
A decisão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) de arbitrar a ampliação do gasoduto Bolívia Brasil (Gasbol) foi bem recebida pelo mercado. Já circulam previsões entre os agentes do setor de que a demanda não atendida de gás no Brasil em 2009 seria entre 12 milhões a 15 milhões de metros cúbicos, no mínimo. Essas previsões já incluem a oferta, pela Petrobras, do gás que vier a ser produzido no campo de Mexilhão, na bacia de Santos. O assunto tem reflexos no mercado de energia elétrica, onde já falta gás para atender todas as térmicas instaladas no país. Esse problema na oferta poderá deixar a maior parte dessas usinas fora do leilão de energia nova marcado para dezembro, justamente por falta de contrato de suprimento do insumo. Essas são algumas das preocupações que vêm sendo manifestadas por analistas privados e até pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) , que aponta a necessidade de geração térmica a gás para suprir a demanda de energia em 2008 e 2009. Pelo estudo do IBP, o consumo de energia no Brasil, em 2008, será de 54,3 mil megawatts médios (MW/m), dos quais 50.209 MW/m providos por hidroelétricas e 6.391 MW/m por térmicas a gás. Já para 2009, a previsão de demanda é maior, atingindo 56,9 mil MW para a mesma oferta de energia hídrica e térmica, o que mostra que nesses dois anos a termoeletricidade será responsável por cerca de 11% da energia assegurada. O que já é evidente é que a definição do tamanho da ampliação do Gasbol terá de levar em conta a capacidade de produção de gás no país vizinho, além dos investimentos necessários para ampliar não só a oferta de gás como também sua movimentação, processamento e armazenagem até sua passagem pela fronteira. O presidente da BG no Brasil, Luiz Carlos Costamilan, ressalta que novos investimentos na Bolívia dependem da disposição dos atuais produtores de gás, que ainda convivem com um quadro de muitas incertezas. Os produtores aguardam definições importantes daquele governo, como a regulamentação da nova lei de Hidrocarbonetos, que prevê a migração compulsória dos atuais contratos para um novo modelo que ainda é desconhecido pelas empresas que têm investimentos naquele país. As petroleiras estrangeiras já abriram um processo arbitral na Bolívia. O passo inicial foi uma denúncia junto à estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) reclamando que a Bolívia está descumprindo as regras do Tratado de Investimentos Recíprocos. Do ponto de vista dos investidores privados o quadro de incertezas se manterá por algum tempo, já que a Bolívia terá eleições presidenciais no dia 4 de dezembro. Até agora os candidatos mais fortes são o líder cocaleiro Evo Moralez, deputado pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS) e o ex-presidente da Bolívia Jorge Quiroga, que concorre pela aliança Poder Democrático e Social (Podemos). (CS)