Título: Lula quer que Haiti seja exemplo de ação mundial no combate à pobreza
Autor: Chico Santos e Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2004, Brasil, p. A-2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que uma ação internacional para auxiliar a reconstrução econômica do Haiti seja o exemplo prático da adesão externa à proposta feita por ele, durante a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro, de que seja definida uma ação mundial de combate à fome e à pobreza. "Façamos do Haiti o exemplo da nossa disposição", disse Lula no discurso de abertura da 18ª Cúpula do Grupo do Rio, organização integrada por 19 países latino-americanos que busca propostas comuns de fortalecimento da democracia e das relações políticas e econômicas internacionais. Em seção que contou com as presenças de 12 presidentes de países sul-americanos, entre os quais a ausência mais notada foi a do presidente argentino, Néstor Kirchner, Lula disse que o esforço pela paz e o fortalecimento da democracia no Haiti, materializado no envio de tropas, inclusive brasileiras, sob a bandeira da ONU, não é suficiente para resolver os problemas do povo haitiano. "Devemos contribuir para a paz e para o fortalecimento da democracia, mas também colaborar com soluções eficazes para reconstruir o país, com resultados palpáveis para a população", destacou Lula. Segundo ele, "o estabelecimento da dignidade do povo haitiano só será possível se for centrado em genuíno esforço de cooperação que cabe a todos". O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, viaja hoje para Porto Príncipe, capital do Haiti, na condição de emissário de Lula, para dialogar com o governo, a oposição haitianos e também com as tropas das Nações Unidas. Ele também terá encontros com intelectuais e representantes diplomáticos. O objetivo, segundo Garcia, é avaliar quais as medidas que são aconselháveis para reforçar a presença latino-americana no Haiti, tanto do ponto de vista militar quanto, principalmente, ao que possa ser feito para a reconstrução econômica, a reconciliação social e a reestruturação política do país. Garcia avaliou que o mais importante é viabilizar ajuda financeira ao país, o que requer a formulação de "projetos críveis" e um mínimo de estabilidade institucional. Segundo o assessor de Lula, já há promessa de doação de US$ 1,2 bilhão para reconstruir o Haiti. O discurso feito ontem por Lula foi centrado na solidariedade internacional, com ênfase na questão do Haiti, no aprofundamento democrático, no fortalecimento do multilateralismo e no equilíbrio do comércio internacional. Ele voltou a defender a necessidade de uma representação permanente dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança da ONU. O Brasil pleiteia para si uma cadeira no órgão maior das Nações Unidas. "O fortalecimento e a consolidação da democracia em nossos países deve ser completado com a ampliação e o aprofundamento da governança democrática no plano internacional. Este é o momento decisivo. A comunidade internacional é chamada a refletir sobre a atualização da estrutura política de preservação da paz e da segurança internacional. A declaração resultante do encontro, que termina hoje no Rio, deverá reivindicar para um país latino-americano esse assento no Conselho de Segurança da ONU reivindicado por Lula. O direito à cadeira é disputado pelo Brasil e pelo México. (CS e FG)