Título: Dívida cresce 111%
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 22/04/2010, Economia, p. 20

Volume de empréstimos chega a R$ 2,58 bilhões em março. Preferência é por consignado

Os velhinhos estão comprando e se endividando como nunca. Com a aposentadoria garantida todo mês e o reajuste acima da inflação assegurado, eles estão indo aos bancos à procura de empréstimos com desconto em folha, os mais baratos entre as opções de financiamento disponíveis no mercado. Segundo dados divulgados pela Previdência Social, aposentados e pensionistas contrataram, em março, R$ 2,58 bilhões em crédito consignado, valor 111% maior do que o do mesmo mês em 2009.

No acumulado do ano, a situação se repete. Os empréstimos somam R$ 6,87 bilhões no período. De janeiro de 2009 a março de 2010, o estoque de crédito nas mãos dos segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) atinge praticamente R$ 30 bilhões, distribuídos em 12,66 milhões de operações nos bancos e nas financeiras conveniadas. O desconto em folha é feito pela Dataprev, que bloqueia a parcela correspondente ao financiamento, repassando o valor diretamente ao agente financeiro. O crédito consinado(1) é feito nas modalidades de empréstimos pessoais e de cartão de crédito.

No empréstimo pessoal, a taxa máxima que os bancos podem cobrar é de 2,34% ao mês, enquanto no cartão de crédito ela chega a 3,36%. Por causa dessa diferença, o uso do cartão tem ficado cada vez mais restrito entre os segurados. Os financiamentos pessoais, mais baratos, são quase a totalidade das operações, atingindo, em março, R$ 2,57 bilhões dos R$ 2,58 bilhões do mês.

Cartão despenca Já a quantidade e o valor dos negócios feitos com cartão despencaram. Segundo dados do INSS, a quantidade de financiamentos com cartão de crédito caiu 73,5% na comparação entre março de 2010 e março de 2009. O valor caiu mais ainda, passando de R$ 99,71 milhões para R$ 14,63 milhões.

Os dados também demonstram que quem mais toma crédito são os aposentados na faixa etária entre 60 e 69 anos que ganham até um salário mínimo de benefício mensal. O financiamento preferido é o de prazo entre 49 e 60 meses. Dos R$ 2,58 bilhões contratados em março, os segurados com benefício equivalente ao mínimo foram responsáveis por quase a metade. Eles obtiveram recursos totais de R$ 1,12 bilhão. Individualmente, na média, cada um contratou R$ 1.837,57.

Os aposentados na faixa salarial de um a três salários mínimos contrataram operações de empréstimo com valor médio de R$ 2.658,81. Os segurados de renda mais alta, acima de três mínimos, tomaram em torno de R$ 4.673,36. Cerca de 36% dos contratos foram feitos por aposentados e pensionistas com idade entre 60 e 69 anos.

1 - Risco baixo O crédito consignado fez sucesso no país pela facilidade de ter as prestações descontadas no contracheque, o que permite a redução dos riscos e a cobrança de juros mais baixos. Desde abril do ano passado, a margem de comprometimento máxima de 30% da renda pode ser utilizada totalmente no empréstimo pessoal, mais barato que o cartão. Até essa data, por conta dos reflexos da crise econômica mundial, o Conselho Nacional de Previdência Social tinha limitado a parcela a 20%, podendo os outros 10% serem utilizados no cartão.