Título: Brasil descarta "Plano B" para acordo agrícola
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2005, Brasil, p. A2

O Brasil e o G-20 definem esta semana novas propostas na área agrícola, e não querem nem ouvir falar de "plano B"´ para as negociações globais de comércio dentro de dez semanas em Hong Kong. Esse plano significaria aprovar generalidades, diante do endurecimento de posições dos países. Deixaria para o ano que vem a definição do tamanho do desmantelamento das políticas agrícolas protecionistas dos países ricos. "Plano B se assemelha a fracasso, porque estamos correndo contra o tempo", reagiu o embaixador do Brasil junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), Clodoaldo Hugueney. "Se não houver resultados importantes em Hong Kong, dificilmente se poderá concluir a rodada até o final de 2006." O embaixador reafirmou que o Brasil e o G-20 querem aprovar logo "modalidades completas" (como será feita a liberalização, com os percentuais de cortes de subsídios e tarifas) em agricultura e produtos industriais, além de "resultados equivalentes" nas outras áreas (serviços, antidumping etc.). Os países começam hoje duas semanas de negociações agrícolas consideradas cruciais. Na semana que vem, vários ministros estarão na Suíça para bater o martelo sobre o que pode ser aprovado em Hong Kong. Mas os Estados Unidos e a União Européia mantém o impasse sobre cortes de subsídios e de tarifas. Na sexta-feira, pela primeira vez os EUA apresentaram aos outros países sua proposta, com redução de tarifas entre 55% e 90%. A alíquota máxima de importação agrícola ficaria em 75% nos países ricos e cerca de 100% nas nações em desenvolvimento. A UE reagiu, dizendo-se "frustrada", alegando que os EUA estão endurecendo a posição. Exemplificaram que uma tarifa hoje de 65% cairia para 10%, o que Bruxelas considera inaceitável. Em outra reunião restrita a 13 países, organizada pelo Japão, o Brasil e os EUA tiveram duras discussões sobre subsídios internos. Washington insiste que a "nova caixa azul"´ não precisa de disciplinas novas para controlar seus gastos. O Brasil retrucou que não aceitaria um acordo sem disciplinar essa categoria de pagamentos de garantia de preços e de renda. É nessa caixa que os EUA vão jogar cerca de US$ 10 bilhões de pagamentos de anticíclicos, pelos quais dão subsídios aos agricultores quando os preços baixam, principalmente para soja e algodão. Esta semana, o G-20 deve completar propostas para os cortes de tarifas, teto máximo de subsídios por produto, liberalização de produtos tropicais, e monitoramento do futuro acordo agrícola global. Enquanto arrasta os pés na OMC, o Departamento de Agricultura dos EUA pressiona o Brasil a fazer acordo para ter acesso às estimativas de safra brasileira, colhidas pelo Geosafras, que utiliza geotecnologias de imagens e sistema de posicionamento por satélite (GPS). Segundo João Vianei Soares, chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto do Instituto Brasileiro de Pesquisa Espacial (Inpe), vendo-se o tamanho do desmatamento na Amazônia já se pode ter um impacto no preço da soja. Ele acha que o estrago este ano será menor, entre outras razões porque a produção de soja diminuiu. Na negociação de serviços, o fato novo é que está praticamente arquivada a idéia de "benchmark", proposta por industrializados para cada pais se comprometer com abertura num numero mínimo de setores.