Título: Mais uma vez dividido, partido deve ter candidato próprio
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2005, Política, p. A8

O ato de desagravo ao presidente nacional do PMDB, Michel Temer, e a decisão dos governadores do Sul e de Garotinho, de pedir a expulsão do senador Renan Calheiros acentuam a crise interna do PMDB, mas não devem ter conseqüência sobre a decisão da sigla de lançar candidatura própria à presidência da República em 2006. Pelo contrário, segundo integrantes da cúpula partidária, a denuncia da suposta traição de Renan, que optou pelo apoio ao nome do governista Aldo Rebelo à presidência da Câmara em detrimento de Temer, teria servido para enfraquecer os que, no partido, ainda sonham com o eventual apoio à recandidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Executiva Nacional do PMDB já deliberou duas vezes, por unanimidade, pelo lançamento da candidatura própria. O roteiro para a escolha do candidato também já foi aprovado: as inscrições para as prévias podem ser feitas até 15 de fevereiro de 2006. A consulta será no dia 5 de março, para permitir que o escolhido, se detiver algum cargo executivo, possa se desincompatibilizar no final do mês. O colégio eleitoral será formado por todo pemedebista que tiver mandato eletivo, os delegados à convenção, o Conselho Político, o Diretório Nacional e a Comissão Executiva Nacional. São cerca de 11 mil votantes, mas o número de votos deve ser bem maior, pois o voto será cumulativo. Por exemplo: um governador pode votar como governador, integrante do Conselho Político e delegado à Convenção Nacional.

Para a cúpula do PMDB, a candidatura própria é uma questão de sobrevivência. Sem apresentar um nome há duas eleições - o último foi o de Orestes Quércia, em 1998 -, o partido mesmo assim tem obtido bom desempenho nas disputas para o Senado e a Câmara, embora tenha perdido espaço no número de governos estaduais e de prefeitos de capitais. Em 2002, surpreendeu ao eleger cinco governadores, inclusive os três da região Sul. Agora, está com nove - além de Rosinha Matheus (RJ), que aderiu em 2003, nas últimas semanas filiaram-se Marcelo Miranda, de Tocantins, Eduardo Braga, do Amazonas e Paulo Hartung (ES). "Deus pode cansar", diz o deputado e ex-presidente do partido Jader Barbalho (PA), numa referência ao fato de que a sorte do PMDB pode não durar para sempre. Um dos mais influentes líderes pemedebista, Jader avalia que a candidatura própria vai viabilizar os candidatos estaduais e pode até mesmo chegar a um segundo turno. Neste caso, se não for o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o outro candidato, o eleitor do PT certamente não votaria em um nome do PSDB ou do PFL. Se não for ao segundo turno, o PMDB pode negociar apoio a um dos dois candidatos com o cacife que obtiver na eleição. A sigla avalia que tem pelo menos 17 candidatos a governador efetivamente competitivos. "Seria uma bobagem eleitoral sem tamanho não ter candidato", diz Jader. Jader, aliás, é um dos caciques partidários que tentam por panos quentes na briga Temer-Calheiros. O próprio Temer tentou convencer o governador Luiz Henrique a não apresentar o pedido de expulsão. Mas nem todos pensam da mesma forma. O deputado Geddel Vieira Lima (BA), por exemplo, só se refere a Renan como "o senador Silvério". O encontro de Santa Catarina foi o terceiro de uma série programada pelos pemedebistas para discutir um plano econômico a ser apresentado pelo candidato. A primeira reunião foi realizada em Curitiba. Naquela ocasião, os oposicionistas do PMDB oficializaram um pedido de censura pública aos atos de Renan e do ex-presidente José Sarney, por consideraram que ambos atuam em favor do governo e ignoram a decisão da maioria da legenda. Por enquanto, só o ex-governador Anthony Garotinho (RJ) declarou que se inscreverá nas prévias. Ele não tem o apoio da maioria dos caciques regionais. O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, também manifestou interesse em disputar. O ex-governador Orestes Quércia e o governador do Paraná, Roberto Requião, sondaram o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, a também apresentar seu nome. Ele ainda não decidiu, mas foi receptivo. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, é uma hipótese considerada mais remota - ele gostaria de ser indicado. A avaliação da cúpula pemedebista é que embora Calheiros ter atuado de forma decisiva na eleição de Aldo Rebelo à presidência da Câmara, o quadro de divisão na Casa não lhe dará mais poderes. Além disso, até o presidente Lula já dá sinais de que não quer ver Aldo a reboque de Renan, pois isso lhe tiraria toda a credibilidade para conduzir uma Casa em que o governo não tem maioria consolidada, está sujeito à pressão da oposição e a chantagens pontuais de aliados como o PP, PTB e PL.