Título: 53 milhões ainda na pobreza
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Fonte: Correio Braziliense, 24/04/2010, Economia, p. 15

Banco Mundial e FMI alertam que o estouro da bolha imobiliária norte-americana atrasará o cumprimento das Metas do Milênio da ONU

Apesar de a economia mundial dar claros sinais de ter deixado o pior da recente crise para trás, não haverá muito o que comemorar. Dados divulgados ontem pelo Banco Mundial (Bird) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que pelo menos 53 milhões de pessoas que deveriam ser resgatadas da pobreza extrema continuarão na mesma situação, devido aos estragos provocados pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana. O atraso na melhoria de vida dessas pessoas será visível, principalmente, nos países em desenvolvimento. São consideradas pessoas em extrema pobreza as que vivem com menos de US$ 1,25 (R$ 2,20) por dia. No relatório Monitoramento Global 2010: as Metas de Desenvolvimento do Milênio após a Crise, o Bird e o FMI destacaram que a crise está obstruindo o progresso e o cumprimento das metas fixadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para os próximos cinco anos. ¿A crise continuará a afetar as perspectivas de desenvolvimento de longo prazo muito além de 2015¿, assinalaram, no documento, técnicos das duas instituições.

Brasil, o exemplo Para eles, a crise financeira, somada à forte alta dos preços dos alimentos em 2008, intensificou a fome no planeta. ¿A meta crítica de cortar pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção de pessoas que sofrem com a fome tem, aparentemente, muito pouca probabilidade de ser conseguida, pois mais de 1 bilhão de pessoas lutam para atender às necessidades básicas de alimentos.¿ Para o Banco Mundial e o FMI, o progresso no combate à pobreza tem sido desigual no mundo em desenvolvimento. Na América Latina, ¿os gastos sociais permaneceram fortes¿, especialmente no Brasil, que, ainda antes do estouro da crise, estabeleceu ¿um programa de transferência condicional de crédito altamente bem-sucedido, o Bolsa Família¿, ampliado depois das turbulências. Em outras regiões, porém, as medidas não têm sido tão eficazes, apesar do esforço dos governos. Por isso, admitiu o diretor adjunto do Fundo, Murilo Portugal, os efeitos da crise serão duradouros.

Alento A seu ver, no entanto, a recuperação que se está vendo agora da economia, mais rápida do que o imaginado inicialmente, dá um alento, não apenas porque quase todos os países que entraram em recessão já saíram do atoleiro, mas, também, porque, ao contrário das crises anteriores, desta vez os problemas foram originados em países avançados. ¿Os países em desenvolvimento estão respondendo melhor à crise¿, graças aos ¿significativos progressos¿ em suas políticas macroeconômicas. ¿Os efeitos (da crise) poderiam ter sido muito piores, não fossem políticas e instituições melhores nos países em desenvolvimento nos últimos 15 anos¿, acrescentou. A previsão é de que, em 2015, o número de pessoas extremamente pobres seja de 918 milhões. Ou seja, mesmo com o atraso previsto pelo Bird e pelo FMI, esse número representa ¿um declínio significativo¿ em relação às 1,8 bilhão de pessoas que viviam nessa situação em 1990.