Título: BrT fará auditoria em contratos de publicidade
Autor: Heloisa Magalhães e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2005, Empresas &, p. B3

Disputa Societária Nova diretoria reúne-se hoje para traçar estratégias

Após a realização de duas assembléias, na sexta-feira, destituindo o Opportunity do conselho de administração da Brasil Telecom S.A. (BrT) e do comando da operadora, os novos diretores da empresa se reuniram no sábado para definir as primeiras estratégias da nova administração. Na sexta-feira foram demitidos onze executivos ligados ao Opportunity. Hoje haverá a primeira reunião de diretoria com 21 pessoas da nova estrutura. O novo presidente da BrT, Ricardo Knoepfelmacher, que substitui Carla Cico, disse ontem ao Valor que um dos primeiros passos será a realização de amplo processo de auditoria nos contratos de marketing, publicidade e comunicação. A equipe vai também promover reuniões com fornecedores. Knoepfelmacher disse ainda que na sexta-feira foi exibido aos funcionários um vídeo apresentando os novos diretores e os planos da nova gestão. Ele acrescentou que não estavam previstas demissões além dos onze executivos que foram afastados. Os executivos planejam fazer duas teleconferências com analistas e investidores. A primeira, no fim de outubro, fará um diagnóstico da situação da BrT. Outra será realizada um mês depois para discutir os rumos da companhia. Um dos focos, segundo Knoepfelmacher, será "potencializar a convergência tecnológica" entre os segmentos onde a operadora atua. Agora que assumiram o controle da companhia, os fundos de pensão e o Citigroup acreditam que ficará mais fácil o diálogo com a Telecom Italia para a venda do controle da operadora. No entanto, tudo indica que as conversas não devem ser simples e o afastamento do Opportunity pode não significar o fim do conflito entre os acionistas da operadora. Dois fatos novos surgiram no final de semana indicando complicações com relação à venda. O presidente da Telecom Italia, Paolo dal Pino, disse que não quer mais comprar a parte dos fundos e do Citi na BrT. E essa decisão suspende o acordo que a operadora italiana tinha feito com o Opportunity, em abril, de compra das ações do banco de Daniel Dantas na BrT. E o Opportunity deve reagir, principalmente depois de ter sido acusado de tentativa de corrupção pela juíza Márcia Cunha de Carvalho, titular da 2ª Vara Empresarial do Rio, em entrevista ao jornal "O Globo", no sábado. Foi ela quem, em maio, concedeu liminar suspendendo acordo de acionistas que dava ao banco poder de votar nome dos fundos, decisão que facilitou reações subseqüentes para que os fundos de pensão e o Citi voltassem ao controle da BrT. Ela disse que seu marido foi contatado por Eduardo Rascovisky, que teria o convidado para advogar para o Opportunity por quantia "astronômica", o que ela entendeu "como uma tentativa de corrupção". A assessoria de imprensa do banco respondeu que não autorizou a nenhuma pessoa a manter contato com a juíza. Mas o Opportunity, que deve utilizar seu arsenal jurídico para se defender da acusação, já vinha trabalhando para reverter a decisão da juíza, tentando afastá-la do caso, o que poderia anular a assembléia de sexta-feira. Um agravante na situação é que, caso a Telecom Italia realmente desista da compra parte do Citi e dos fundos na BrT, pode perder o efeito o acordo que o Opportunity tinha feito, em abril, com os italianos de vender suas ações na companhia. Dal Pino esteve semana passada com o ministro das Comunicações, Helio Costa, e declarou que se sente impossibilitado de seguir negociando, pois fez uma "proposta vantajosa" aos fundos e ao Citi, que foi recusada. Na semana passada, terminou sem sucesso uma rodada de negociações em Londres para a venda da empresa. Entretanto, a avaliação de fontes ligadas aos fundos é de que a Telecom Italia estaria blefando ao dizer que não estaria mais disposta a conversar, uma vez que a empresa já adotou esse discurso anteriormente e depois voltou a negociar. De acordo com o novo presidente do conselho de administração da BrT, Sergio Spinelli, advogado do Citigroup, a Telecom Italia terá seu lugar na nova administração da BrT. "Todos os acionistas serão ouvidos e as decisões serão tomadas em consenso", afirmou. Spinelli foi eleito numa assembléia geral extraordinária realizada sexta-feira, quando foram indicados quatro nomes ligados ao Citi e às fundações; dois conselheiros da Telecom Italia e os minoritários tiveram direito a um assento. A Telecom Italia não poderá votar em questões relacionadas à telefonia móvel e longa distância, segmentos onde tem sobreposição de licenças com a BrT. Até então, a BrT era administrada pelo Opportunity que foi destituído em março, pelo Citi da gestão do fundo CVC, por meio do qual investe na operadora. Dessa forma, seguiu decisão semelhante dos fundos, que haviam afastado Dantas do CVC nacional em outubro de 2003. Uma complexa batalha jurídica manteve o gestor carioca à frente da BrT, apesar do rompimento de seus clientes. A assembléia durou pouco mais de 20 minutos e transcorreu em clima de normalidade, apesar da batalha jurídica e política que marcou os dias anteriores. Na quinta-feira, o conselho de administração da BrT, ainda dominado pelo Opportunity, chegou a desmarcar a reunião, legando que pedido nesse sentido havia sido feito pelo senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO) ao Tribunal de Contas da União. Mas, além de essa solicitação ter sido negada, o Citi e os fundos conseguiram decisões judiciais garantindo a convocação. A assembléia reduziu de 21 para sete as áreas de operação e estabeleceu uma vice-presidência de planejamento e assuntos regulatórios, que ficará a cargo de Luiz Francisco Perrone (ex-Hispamar e ex-Anatel). Também foi criada uma área de governança. Com a chegada à Brasil Telecom, o Citigroup e os fundos conseguiram tirar o Opportunity da gestão de quatro das seis empresas que controlam (ou participam do bloco de controle). As outras três são Metrô Rio, Santos Brasil e Sanepar. Falta definir a situação na Telemig Celular e Tele Norte Celular (Amazônia), nas quais o Opportunity permanece por meio de liminar. Alberto Guth, sócio do Angra Partners, avaliou que levará cerca de dois meses para resolver a pendência na Telemig e na Tele Norte. Ele comemorou a chegada à BrT. "Estamos nessa luta há um ano e meio", destacou.