Título: Medo da inadimplência cria mercado para seguradoras
Autor: Denyse Godoy
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2005, Finanças, p. C3

Crédito com Seguro Crescem as vendas de apólices de proteção financeira

As propagandas das grandes redes de lojas de móveis e eletrodomésticos do país alardeiam: ao comprar algum produto usando o crediário, o consumidor pode também adquirir um seguro que, em caso de desemprego, morte ou invalidez, quita algumas das parcelas ou mesmo todo o saldo devedor. Antes vinculado somente ao financiamento de bens de maior valor, como casa própria ou carro, o chamado seguro prestamista há cerca de três anos experimenta um forte crescimento, graças à descoberta de novos canais de distribuição e à explosão do crédito consignado. Até 2002, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) contabilizava as estatísticas sobre o prestamista juntamente com o ramo de vida em grupo, mas depois passou a separá-las. Em 2003, 0,74% do faturamento das companhias seguradoras (R$ 227,535 milhões) foi obtido com o prestamista. Em 2004, o montante saltou para R$ 526,581 milhões (1,4% do total) e, até junho de 2005, o valor era de R$ 440,919 milhões (2,27%). "Projetamos que o segmento termine este ano com alta de 75%", diz André Oliveira, chefe da divisão de estudos econômicos da Susep.] Ao perceberem que o brasileiro se sente muito vulnerável quanto ao orçamento familiar, por causa do baixo nível de renda e da elevada taxa de desemprego, as seguradoras viram que o prestamista poderia ser um produto especialmente lucrativo. Uma pesquisa feita no início de 2005 pelo Instituto TNS Sofres, a pedido da seguradora Cardif, ouviu 14 mil consumidores em 14 países e descobriu que o nível de preocupação dos brasileiros em relação a imprevistos como doenças graves e morte é superior ao dos cidadãos de outros países: 6,8 pontos contra 5,5 pontos, em média (numa escala de 1 a 10). O medo do desemprego também é maior - 8,3 pontos, contra 6,9. Para 40% dos brasileiros (36% nos outros países), seria impossível manter seu atual padrão de vida por mais de três meses caso ficassem sem trabalho. Ainda de acordo com o levantamento, 69% dos consumidores do país pensam que é conveniente comprar algum produto no crediário, mas metade dos brasileiros teve dificuldades para pagar suas prestações dentro do prazo. "O cliente sente enorme satisfação ao se ver protegido quando fica desempregado. Isso fortalece o seu vínculo com a loja", afirma Antônio José de Araújo, gerente de serviços do Magazine Luiza, que tem 350 lojas espalhadas por sete Estados. Hoje, 60% das vendas a crédito feitas pela rede têm o seguro. Além de ganharem comissão sobre as vendas de apólices, as varejistas que oferecem o seguro também sofrem menos prejuízos com a inadimplência. A utilização desse canal de vendas possibilita às seguradoras alcançar as classes sociais C, D e E. "O prestamista ajuda a difundir a cultura do seguro entre um público que não estava familiarizado com as suas vantagens", destaca Fernando Zamboim, diretor-adjunto da Zurich. Porém, segundo as previsões da Susep, o pico do crescimento do segmento de proteção financeira já se deu e a tendência é de que o crescimento se estabilize. Na opinião de Bento Zanzini, vice-presidente da unidade de vida e previdência da Mapfre, boa parte das parcerias que poderiam ser feitas com grandes varejistas já aconteceram. Assim, lojas pequenas e médias e associações comerciais passam a ser o foco. As seguradoras também se esforçam para desenvolver novos produtos. "É possível compor um seguro com um título de capitalização ou com algum tipo de assistência para pequenos reparos domésticos", diz Adriana Naves, diretora de acidentes pessoais da Ace. Para Renato Caetano, gerente de planejamento de marketing da Cardif, a estratégia das seguradoras deve se concentrar na divulgação. "Ainda existe desconhecimento do produto, não só pelo consumidor, mas dos próprios varejistas", diz. Gilberto Abreu, superintendente executivo de seguros do Santander, conta que o banco vai oferecer o prestamista para quem contratar operações de crédito com desconto em folha de pagamento. "Como esses empréstimos têm taxas favoráveis, é preciso criar outro diferencial", diz o executivo.