Título: Indústria brasileira agride menos a camada de ozônio
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2004, Brasil, p. A-5

As indústrias brasileiras reduziram aceleradamente, nos últimos 11 anos, o consumo de substâncias destruidoras da camada de ozônio. É o que mostra a publicação Indicadores do Desenvolvimento Sustentado, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O consumo de produtos nocivos à camada de ozônio, que correspondia a 11,2 mil toneladas em 1992, caiu para 4,36 mil toneladas em 2003. Apenas o consumo de CFC, utilizado em geladeiras, passou de 10 mil toneladas para 3,0 mil toneladas entre 1992 e 2003, uma queda de 70%, que supera as metas de redução estabelecidas pelo Protocolo de Montreal. A destruição da camada de ozônio é a causa de um dos problemas ambientais mais sérios atualmente, o aquecimento da Terra. Por outro lado, o IBGE detectou em seu levantamento uma elevação na ocorrência de queimadas. Em 2000, segundo a pesquisa, foram detectados por satélite 104 mil focos de calor no Brasil. Em 2003, eles saltaram para 212,9 mil focos, mais que o dobro. O instituto não levantou dados referentes ao efeito estufa (CO2). Judicael Clevelário, gerente de projetos da área ambiental do IBGE, explicou que este é um processo de dano ambiental diferente do que destrói a camada de ozônio e é regulado pelo Tratado de Kyoto. Apesar de a Organização das Nações Unidas (ONU) não pedir levantamento das queimadas, o IBGE constata que elas são responsáveis pelo aumento do efeito estufa.

O técnico do IBGE conclui que no Brasil se desmata muito mais do que é necessário para agregar novas áreas de produção. "A grande pergunta que fica é pensar, com base no desenvolvimento que temos, que desenvolvimento queremos e para onde queremos caminhar". A área desmatada hoje apenas na Amazônia equivale ao território do Estado de Sergipe, de 26 mil quilômetros quadrados. No processo de diminuição da agressão à camada de ozônio, as indústrias de compressores para refrigeração tiveram papel importante, ressaltou Clevelário, um dos responsáveis pelo trabalho divulgado ontem. Ele elogiou também a iniciativa do governo, pela legislação que obrigou a redução do uso do CFC - substituído por uma substância menos danosa, o HCFC - e que concedeu mais créditos às empresas que tivessem metas de redução desses poluentes. Ao todo, o trabalho do IBGE levantou o comportamento de 59 indicadores do desenvolvimento sustentável, que incluem ainda uso de agrotóxicos, as queimadas e incêndios florestais, desflorestamento da Amazônia Legal, qualidade de águas interiores, gastos com pesquisa e desenvolvimento, gastos públicos com proteção ambiental, consumo de energia per capita, concentração de poluentes no ar nas áreas urbanas, balneabilidade e doenças relacionadas ao saneamento ambiental, dentre outros. As boas notícias se concentraram, em grande parte, porém, na menor agressão à camada de ozônio. Houve também melhoria na qualidade do ar. As concentrações de partículas totais em suspensão, partículas inaláveis, dióxido de enxofre e monóxido de carbono estão diminuindo no ar, o único que não está é o ozônio. Segundo Clevelário, o ozônio na alta atmosfera serve de barreira aos raios ultra-violeta, o que é bom, mas quando na baixa atmosfera passa a prejudicar o ser humano. A pesquisa ressalta o crescimento do uso de fertilizantes que aumentam a produtividade nas áreas de plantio, mas que têm implicações ambientais, como a contaminação da água dos rios e envenenamento dos alimentos. Para 53,5 milhões de hectares plantados nas suas principais culturas, em 2002, o Brasil fez uso de 7,6 milhões de toneladas de fertilizantes.