Título: Salvaguardas e negociação com China serão processos paralelos, diz ministro
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2005, Brasil, p. A3

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, garantiu ontem que o Brasil vai regulamentar as salvaguardas específicas contra a China previstas na Organização Mundial de Comércio (OMC). As negociações para um acordo de restrição voluntária das exportações chinesas fracassaram na semana passada. "Deixei bem claro ao governo chinês que não era nenhuma situação inamistosa, mas que faríamos a regulamentação normalmente", disse Furlan, que teve reuniões em Pequim com o ministro de Comércio chinês, Bo Xilai. Ele participou ontem de almoço no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). "Por unanimidade na Camex, aprovamos a regulamentação das salvaguardas e encaminhamos para a presidência da República. E o presidente Lula já disse, em público, mais de uma vez, que vai regulamentar", garantiu o ministro. Furlan se reúne hoje com Lula para relatar a viagem à China. A aprovação da regulamentação das salvaguardas pela Camex ocorreu há mais de três meses, mas o governo não publicou o regulamento e optou pela negociação prévia, para não se indispor com um parceiro importante. Só que com o fracasso em Pequim, a pressão do setor empresarial aumentou. "O Brasil deve regulamentar as salvaguardas. É um direito, não uma ameaça", disse o presidente do Ciesp, Claúdio Vaz. "Esperamos que as salvaguardas sejam regulamentadas rapidamente. Não temos tempo a perder", completou o diretor de comércio exterior, Humberto Barbato. "Não está caracterizado o confronto. Agora o Brasil fará aquilo que está previsto na OMC", disse Renato Amorim, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China. O conselho defendeu que o governo brasileiro não regulamentasse as salvaguardas antes da viagem de Furlan. Amorim, que estava em Pequim, agora argumenta que "ainda não se esgotou a via do diálogo, mas que os chineses têm que entender as sensibilidades da indústria brasileira". Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos (Abrinq) está satisfeito com os resultados. "Ao dizer não ao acordo com o Brasil, a China deu o sinal verde às salvaguardas. Agora depende da competência de cada setor em provar o dano", afirmou. Apesar de garantir a regulamentação das salvaguardas, Furlan não descartou o acordo de restrição com os chineses e disse que são processos "paralelos". Ele frisou que os Estados Unidos estão na quinta rodada de negociação. "Nós deixamos uma arquitetura que levava ao acordo. Temos a expectativa de trocar propostas escritas nos próximos dias. E, a partir daí, dar o primeiro passo", disse. Na avaliação do ministro, o curto espaço de tempo foi a principal dificuldade nas negociações com os chineses. As conversas não puderem prosseguir, porque essa semana é feriado na China, por conta das comemorações do aniversário da revolução comunista. Um empresário que acompanhou a missão reclamou da falta de foco das negociações, por conta do excesso de setores envolvidos, cerca de 20. Outro empresário avaliou que as negociações simultâneas dos chineses com o Brasil e com os americanos também contribuíram para a falta de flexibilidade da China. Uma concessão ao Brasil, aumentaria a pressão dos EUA. (RL)