Título: Contas de Duda abrem porta a caixa 2 do PT no exterior
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2005, Política, p. A6

Parlamentares da CPI Mista dos Correios concluíram que os depósitos de R$ 10,5 milhões feitos na conta do publicitário Duda Mendonça nas Bahamas são a chave para desvendar possíveis contas do PT no exterior. A CPI tem indicações de que a empresa offshore Dusseldorf Company, aberta por Duda em 2003, foi abastecida por um esquema montado pelo PT a partir de uma rede de doleiros brasileiros. A conta foi aberta no Bank Boston International. Boa parte desses "operadores do mercado financeiro" foi presa numa operação da Polícia Federal, em agosto de 2004, sob acusações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A cúpula da CPI argumenta que isso explicaria boa parte da intrincada equação financeira do mensalão. "Não dá para afirmar que há dinheiro do PT no exterior, mas o dinheiro de Duda pode revelar caminhos", afirma o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirma que a análise dos documentos tem refutado a teoria dos empréstimos. Segundo ele, há três "possibilidades claras" para explicar o caso: "O uso de contratos fictícios, o superfaturamento ou, como denunciou o próprio Duda Mendonça, o uso de recursos que estavam fora do país", diz. O publicitário da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu à CPI, em 11 de agosto, ter recebido R$ 10,5 milhões de recursos do caixa 2 do PT no exterior. O pagamento, feito a pedido do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, foi intermediado por Marcos Valério de Souza, acusado de operar o pagamento do mensalão no Congresso. Os recursos serviram para quitar dívidas das campanhas eleitorais de 2002 do presidente Lula, do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), da ex-governadora Benedita da Silva e do candidato derrotado do PT ao Senado pelo Rio, Edson Santos. Parlamentares da CPI têm ensaiado iniciar uma investigação sobre essas e outras contas no exterior, mas esbarram em dificuldades operacionais. "Essa conta do Duda é a chave, mas as investigações não estão no tempo político da CPI. É coisa para três ou quatro anos", pondera o sub-relator de movimentações financeiras da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). O processo de rastreamento da Dusseldorf, considerado mais simples em função da farta documentação apresentada por Duda à CPI, deve demorar dois ou três meses, segundo informou o Ministério da Justiça à CPI. A Dusseldorf Company recebeu dinheiro de diversas contas e bancos internacionais ao longo de 2003. O dinheiro saiu da conta de empresas como SM Import, SM Comex, Deal Financial Corp., Kanton Business Corp. e Radial Enterprise. Elas poderiam ser o elo entre doleiros e petistas, segundo Fruet. Os depósitos partiram dos bancos Rural Europa (Portugal), Israel Discount Bank of New York (EUA), Wachovia Bank (EUA), BAC Florida Bank (EUA) e, sobretudo, do Trade Link Bank, sediado no paraíso fiscal das Ilhas Cayman (EUA). O Trade Link já operou para o Banco Rural, segundo admitiu à CPI a própria presidente da instituição, Kátia Rabello. Ela negou, porém, a suspeita de que o Trade Link seria uma subsidiária do Rural. A CPI aprovou, na última semana, a contratação de uma auditoria externa para rastrear a origem dos recursos financeiros investigados. Até agora, a comissão identificou os beneficiados, mas não descobriu se o dinheiro veio de empresas públicas ou privadas.