Título: Troca partidária frustra governo e oposição
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2005, Política, p. A7

Crise Base aliada perde força, mas partidos de oposição recebem menos adesões do que previam

Com dificuldade de lidar com as votações no Congresso Nacional durante toda a administração de Luiz Inácio Lula da Silva até agora, o governo federal terá ainda mais trabalho para reunir sua base depois de finalizado o prazo para troca de partidos. O resultado das movimentações revela uma perda, na base aliada, de 19 parlamentares, e um crescimento de 25 nas siglas oposicionistas. Mas nem por isto as oposições saem menos frustradas desse período de mudanças partidárias. Tanto o PSDB quanto o PFL esperavam receber muito mais parlamentares do que os poucos que acabaram recebendo. Em junho, quando iniciou-se a crise política decorrente das denúncias de pagamento de mensalão e começaram a surgir as primeiras demonstrações de insatisfação dos deputados da base, os partidos do governo tinham 357 parlamentares contra 150 oposicionistas e seis sem partido. Ontem, a conta final mostrava 338 governistas e 175 das siglas em confronto com o Palácio do Planalto.

O vice-líder do PT na Câmara, José Eduardo Cardozo (SP), reconhece a perda de deputados por parte da base aliada, mas credita as mudanças mais às condições regionais do que à crise política. "As alterações não passam tanto pelo alinhamento ou não ao governo federal. As alocações nos outros partidos se deve ao destino de cada mandato em suas cidades e estados", analisa o parlamentar. "O PSB é da base, está mais do que nunca ligado ao governo e foi uma das legendas que mais cresceu", diz o vice-líder petista, ao citar a sigla do ex-ministro de Ciência e Tecnologia e deputado federal Eduardo Campos (PE), que pulou de 17 deputados em junho para 29 ontem. Dos partidos mais envolvidos no escândalo do mensalão, PT, PTB e PL sofreram perdas maiores. O partido de Lula tinha 91 deputados em junho e hoje tem 83. Perdeu sete parlamentares para o PSol da senadora Heloísa Helena (AL), e Miro Teixeira (RJ) retornou ao PDT. Além de as desfiliações terem sido menores do que a expectativa, os petistas registraram a vantagem de terem continuado como a maior bancada da Câmara Redução maior ocorreu no PL. Em junho, o partido tinha uma bancada de 53. Ontem, despencou para 38. O PTB tinha 47 há quatro meses - chegou a ter 52 em 2003 - e ontem fechou o balanço em 44. Na corrente contrária ao fenômeno dos partidos do mensalão, o PP perdeu um parlamentar e tem agora 54. O partido ultrapassou o PSDB, que contabiliza 53 parlamentares, e assumiu a quarta colocação no ranking das bancadas. No início da última semana, havia a expectativa de o PMDB ultrapassar o PT para tornar-se a maior bancada da Câmara, mas o partido perdeu parlamentares, caindo de 89 para 80. Dois deputados - José Divino (RJ) e Vieira Reis (RJ) - deixaram o PMDB para ingressar no novo partido da Igreja Universal do Reino de Deus, o PMR. Outra mudança de posto no ranking dos partidos ocorreu com PPS e PDT. O primeiro, chegou a 23 durante o governo Lula, quando era da base aliada, e agora tem 16. Os pedetistas, agora na oposição, tinham 16 e foram a 19. Outro partido a crescer foi o PSC. Com dois deputados levados para a legenda pelo ex-governador Anthony Garotinho - Dr. Heleno e Deley - a legenda chegou aos 6 parlamentares.