Título: UE começa a negociar a adesão turca
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2005, Internacional, p. A8

Ampliação Em decisão histórica, bloco se abre a um país islâmico

A União Européia deu um passo histórico ontem ao aprovar o início das negociações para a entrada da Turquia, um país muçulmano, no bloco composto hoje unicamente por países de maioria cristã. O processo, porém, deve ser longo, ao menos dez anos, e difícil, pois a maior parte da opinião pública européia é contrária à adesão. "Uma decisão comum foi tomada em favor de uma aliança de civilizações", disse o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan. A abertura de negociações não significa que a Turquia será necessariamente aceita, mas até hoje não aconteceu de um país ser rejeitado. Para poder entrar, a Turquia terá de percorrer um complexo caminho de adequar suas instituições e legislação aos padrões da UE, que tem o poder de decidir se e quando o processo será concluído. Para vencer a resistência à negociação com a Turquia foi necessária uma maratona de 30 horas de reunião entre chanceleres dos 25 países da UE. A Áustria queria que a UE propusesse um tipo de parceria alternativa, que não implicasse plena participação. O governo turco já sinalizara que não aceitaria se tornar membro de segunda classe. Apenas 10% dos austríacos são favoráveis à adesão turca, segundo pesquisa. É o menor apoio entre os países europeus. Mas na França e na Alemanha, países que são o motor da interação da UE, o entusiasmo não é muito maior: em torno de 22%. Na média, só 35% dos europeus querem a Turquia no bloco. A abertura de negociações encerra uma novela que dura desde 1963, quando pela primeira vez a Turquia pleiteou uma vaga no clube europeu. Nos últimos anos, o país fez uma série impressionante de reformas institucionais com o objetivo de convencer a UE a dar-lhe uma chance, tornando-se um exemplo de democracia e Estado laico entre os países islâmicos. Mas os problemas envolvendo o ingresso da Turquia são muitos. Em primeiro lugar, seria de longe o país mais pobre da UE, com um PIB per capita em torno de US$ 7.400 em 2004 (calculado pela paridade de poder de compra), um pouco menor que o do Brasil. Isso exigiria da UE um grande esforço econômico para o desenvolvimento da Turquia, apesar de muitos países enfrentarem dificuldades fiscais. E, ao contrário da maioria dos recém-admitidos, a Turquia não é um país pequeno. Com 72 milhões de habitantes, seria o mais populoso da UE depois da Alemanha. O principal ganho seria político. A Turquia, que já é membro da aliança militar Otan, é o principal aliado ocidental no Oriente Médio. Ao admiti-la, a UE abriria uma importante ponte entre civilizações, num momento em que o extremismo islâmico busca afastar o mundo muçulmano do Ocidente.