Título: Pochmann teme que fusão de pastas prejudique programas sociais
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2004, Política, p. A-6

Gerente do maior programa de transferência de renda municipal, o secretário de Trabalho e Desenvolvimento Social de São Paulo, Marcio Pochmann, afirmou ao Valor que a eventual fusão de sua pasta com a de Assistência Social, medida que está sendo cogitada pela equipe que assessora o prefeito eleito José Serra, poderá diminuir o controle sobre os cadastros de beneficiados e abrir a área para influências políticas. "Diferente do que ocorreu em outros lugares, aqui não houve nenhuma denúncia em quatro anos. Ao se fundir uma área tão diferente como assistência social para moradores de rua e mecanismos de transferência de renda com condicionalidades, há espaço para a manipulação do cadastro", afirmou Pochmann. Os programas gerenciados pela pasta atendem 492 mil famílias, incluído neste total 170 mil que são atendidos pelo Bolsa Escola e Bolsa Família, programas com recursos federais. O maior de todos é o da renda mínima, com 270 mil beneficiados. Há ainda 120 mil inscritos em programas que garantem complementação de renda para pessoas que buscam inserção no mercado de trabalho, seja em cursos profissionalizantes, seja em atividades especiais para trabalhadores muito jovens ou acima de 40 anos. A pasta toca ainda um programa de microcrédito, com 23 mil empréstimos concedidos. Os programas de sua pasta, segundo o secretário, atingem 20% da população da cidade. De acordo com integrantes da equipe de Serra, a intenção do prefeito eleito é fundir a Secretaria do Trabalho com a de Assistência Social. O provável titular do novo órgão deverá ser filiado ao PDT e indicado pelo presidente licenciado da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. Comentários entre sindicalistas apontavam como o nome mais forte o do médico Diógenes Martins, especializado em segurança do Trabalho e representante da Força no Conselho Nacional de Saúde. "O Serra tem um acordo conosco, mas não indiquei nome nenhum, porque não houve nem confirmação que a secretaria seria essa", negou ontem Paulinho, lacônico sobre o trabalho que poderá ser desenvolvido na pasta de Pochmann. "É uma secretaria importante. Não conheço a obra do secretário. Sei que ele tem muitas pesquisas acadêmicas", disse. Durante sua campanha derrotada para a Prefeitura de São Paulo, Paulinho prometeu a construção de 32 centros de solidariedade, agências de recolocação de mão-de-obra, semelhante à mantida pela central em sua sede. Nesta agência, que recebe recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), a Força cadastrou 2 milhões de pessoas, e diz conseguir 300 colocações no mercado de trabalho por dia. Central predominante no setor privado em São Paulo, a Força visa crescer na organização de desempregados para se contrapor à maior central do País, a CUT. Em sua gestão, a secretaria tocou um pequeno programa com objetivos semelhantes, o "São Paulo Inclui", que atendeu apenas a 5.740 pessoas. "Já existe um conjunto de centros de intermediação de mão de obra em São Paulo, todos operando com recurso do FAT. Eles se sobrepõem no centro da cidade e operam apenas com o mercado de trabalho com carteira assinada. Somam 3,1 milhões de inscrições, que é um número maior que o total de desempregados na cidade, o que evidencia a dupla inscrição. Como recebem recursos federais, a prefeitura não tem muito o que fazer", comenta Pochmann, com dúvidas sobre o que representaria a orientação da secretaria nesta direção. "Eles podem querer integrar estes centros ou fazer novos centros da prefeitura, que irão se sobrepor aos outros.