Título: Lula, o arquiteto dos palanques
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 27/04/2010, Política, p. 2

Eleições

Presidente aproveita o alto índice de popularidade a seu favor para interferir em articulações estaduais, atrair o PSB e facilitar o caminho de Dilma. Próximos desafios são Minas Gerais e Paraná

Do alto de seus 83% de popularidade registrados na última pesquisa do Ibope, o presidente Lula virou o principal articulador dos palanques e dos apoios obtidos até agora pela sua candidata, a ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Essa semana, mexeu os pauzinhos e conseguiu mais um tento: aproximar o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR), candidato a governador do Amazonas, do PSB de Serafim Corrêa. A operação desmontou o palanque que abrigaria o PSDB no estado e deu estofo ao candidato preferido de Dilma, a quem ela se comprometeu a apoiar há mais de um ano, quando integravam a equipe que formatou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No Amazonas, quando se viu sozinho, sem o PT e numa coligação com os tucanos sem candidatos a deputado federal que lhe ajudassem a eleger o filho, Marcelo Serafim, o ex-prefeito de Manaus abriu mão da candidatura a governador. A expectativa é de que Serafim Corrêa seja vice na chapa de Nascimento.

Confirmada hoje a retirada da pré-candidatura de Ciro Gomes, Lula espera que o PSB oficialize numa convenção em junho o apoio à petista. O presidente ficou ainda de conversar com o PT para ajudar o PSB em alguns estados. A ajuda, contudo, não virá da forma que os socialistas desejam. Será filtrada de acordos em que o presidente aposta para seu partido. Em São Paulo, os socialistas esperavam uma atitude firme do presidente no sentido de parar de pressionar os aliados a apoiarem o PT. Não virá. A carta que Lula enviou ao senador Aloizio Mercadante para dizer que será ¿militante¿ da campanha petista foi um aviso do time em que vai jogar. Conquistar uma boa votação para o PT no estado em que tremula a bandeira tucana virou projeto prioritário para Lula.

O presidente tem participado ativamente dos movimentos decisivos para aglutinar aliados nos estados, em especial para o PT, embora faça questão de permanecer discreto. Nos bastidores, vem sendo chamado de ¿maestro da sucessão¿ desde os primeiros acordes da sinfonia, em 2007, quando chamou os principais atores do PT e avisou que o melhor nome à sua sucessão seria o da então ministra Dilma Rousseff. Dilma saiu da toca naquele ano. Em fevereiro, estava no Rio inspecionando obras dos Jogos Pan Americanos.

Naquela época, Dilma não passava de poucos pontinhos nas pesquisas(1). No levantamento do instituto Sensus de outubro de 2007, tinha 5,7%, José Serra (PSDB), 30%, e Ciro Gomes, 22,8%. Hoje, o instituto apresenta a candidata praticamente empatada com Serra, enquanto os outros rivais não superam os 10%. ¿Diferentemente do que as pessoas diziam, que ele (Lula) se apartaria do PT, ele nunca se apartou. O PT sofre influência direta dele¿, avalia o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Reticência

Diante de um líder tão seguro do que estava propondo, o PT não teve outro caminho senão aceitar a decisão de Lula em relação a Dilma. A única dúvida do presidente era em relação ao PMDB. Durante o período em que se manteve reticente sobre as reais intenções dos peemedebistas, acenou com a possibilidade de entregar a vaga de vice ao PSB de Ciro Gomes. Lula só passou a considerar o PMDB resolvido este ano. E quanto ao presidente da Câmara, Michel Temer, a primeira vez em que Lula tratou o deputado como o vice de Dilma foi na semana passada, na entrevista (2)que concedeu ao Correio.

Ao PSB, restaram dois caminhos: seguir com a candidatura presidencial de Ciro ou buscar acordos nos estados de forma a garantir uma bancada de senadores e deputados no Congresso e, ao mesmo tempo, eleger quantos governadores tiver possibilidade. Na última semana, o PSB informou a Lula que a tendência era mesmo ficar com a segunda opção.

Resolvido o PSB, Lula tem outros dois pontos que considera cruciais para a largada oficial da campanha de Dilma, em junho: Minas (3)e Paraná, onde o presidente tentou montar o palanque de Dilma com o senador Osmar Dias (PDT) candidato ao governo. Dias foi inclusive ao gabinete de Lula conversar sobre o apoio à petista, mas não deu certo porque o pedetista sentiu cheiro de esperteza no ar: para ele, o PT quer apenas fazer Gleice Hoffman senadora e não faria campanha de corpo e alma pela sua candidatura.

1 - Fica para a TV O ex-ministro José Dirceu tinha dito lá atrás que, na semana santa, Dilma já estaria na frente de José Serra (PSDB). Como isso não ocorreu, o PT passou a considerar que o melhor é consolidar o que Dilma já conquistou até aqui, acima dos 25%, e deixar para ultrapassar o tucano no decorrer da campanha na TV.

2 - Governabilidade garantida O presidente afirmou que Temer dá a segurança de um homem experiente nas relações com o Congresso. ¿O Temer, se for ele o indicado pelo PMDB, dará a tranquilidade de que nós não teremos problemas de governabilidade no país, que é sempre uma coisa de muita tensão¿, afirmou Lula.

3 - Prévias anunciadas O PT escolhe seu candidato a governador no domingo, numa prévia entre o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias. A cúpula petista está disposta a fazer do nome escolhido candidato a senador numa chapa com o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa (PMDB) ao governo do estado.