Título: BC tenta conter a queda do dólar
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2005, Finanças, p. C1
Câmbio Para especialistas, compra de até US$ 50 milhões é apenas a primeira de muitas
O Banco Central comprou dólares no mercado à vista pela primeira vez desde 16 de março. O total comprado ficou entre US$ 20 milhões e US$ 50 milhões no máximo, segundo estimativas feitas ao Valor. A atuação, embora modesta, será apenas a primeira de muitas. Os especialistas apostam que o BC deverá escolher dias de forte fluxo externo, como ontem, para comprar, de forma a evitar valorizações abruptas no real e sustentar a moeda americana. A atuação terá, sim, impacto nas cotações da moeda, acreditam os analistas. Ontem, o dólar ficou estável, com queda de 0,04%, fechando a R$ 2,2290. No ano, a desvalorização acumulada é de 16%. O Tesouro Nacional já vinha comprando dólares no mercado interno para fazer frente aos pagamentos de dívida externa e nem por isso o dólar deixou de entrar em queda livre. Mas, o BC causa "mais ruído", lembra Alexandre Vasarhelyi, chefe da mesa de câmbio do ING. "O BC avisa quando vai entrar e acabam interferindo mais nas cotações." Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e hoje sócio da Mauá Investimentos, concorda. Apesar da tranqüilidade do mercado, ontem, "quando o BC entra comprando é sempre relevante". Se a autoridade monetária vende reais, é porque avalia que a moeda está valorizada o suficiente. Além de aumentar o volume das reservas internacionais, o caixa em moedas estrangeiras do país, o BC vai acabar impedindo quedas muito maiores e abruptas no dólar, avalia ele. "O BC está certo ao acumular musculatura neste momento, pois o dólar não parava de cair", comenta Figueiredo. O impacto só não foi maior por causa do forte fluxo externo e porque em grande parte o mercado já esperava pela atuação ontem. Na quinta-feira, o diretor de política econômica do BC, Afonso Bevilaqua, disse que "o programa de recomposição de reservas continua em vigor" e que não deveria ser uma "surpresa" se o BC voltasse ao mercado. Os comentários seguraram um pouco o tombo no dólar. Na sexta-feira, por causa da formação da ptax -a taxa média de mercado usada para liquidar todos os contratos futuros - de fechamento do mês de setembro, o BC preferiu não atuar. A atuação de ontem era quase certa, afirmam os especialistas, por causa do forte fluxo de entrada de recursos esperado, de US$ 300 milhões a US$ 500 milhões líquidos. Sem a atuação do BC, o dólar poderia ter ido para baixo de R$ 2,20, acreditam. O dólar abriu em queda, mas o leilão das 11h - no qual o BC comprou a R$ 2,231 - segurou a moeda. No dia 16 de março, quando fez a última compra antes de ontem, a cotação era R$ 2,7490. A compra do BC tem um custo, pois ele injeta reais que têm de ser enxugados pelo Tesouro ao custo da taxa básica Selic, de 19,5% ao ano. "Mas não se pode pensar apenas do ponto de vista financeiro - é necessário considerar os efeitos para o país", diz Figueiredo. Para ele, o BC é como um juiz de um jogo de futebol - o time que está perdendo sempre vai reclamar de sua atuação. Neste ano, o BC já comprou US$ 10 bilhões e o Tesouro, outros US$ 10 bilhões. Para analista, o dólar caiu tanto em setembro que os exportadores se retraíram - o câmbio contratado para exportação líquido não teria passado de US$ 10 bilhões, 10% a 12% a menos do que nos dois meses anteriores.