Título: Reunião de Hong Kong pode resultar em avanços tímidos, prevê Graça Lima
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2005, Brasil, p. A2

A rodada de negociações comerciais da Organização Mundial de Comércio (OMC), que tem uma reunião ministerial decisiva em dezembro, em Hong Kong, tem fortes chances de terminar em um cenário de baixíssimos avanços em matéria de liberalização de comércio, prevê o embaixador do Brasil na União Européia (UE), José Alfredo Graça Lima. Ele acredita que a maior expectativa do governo brasileiro e de outros países em desenvolvimento reunidos no chamado G-20, de maior abertura do mercado europeu e americano para produtos agrícolas, deve se frustrar, porque não há apoio político nos Estados Unidos e na Europa para novas reduções de distorções e barreiras no comércio internacional, acredita o diplomata. "Corremos o risco de fazer concessões para conseguir mudanças mínimas, que a Europa, por exemplo, já iria fazer de qualquer maneira", avalia Graça Lima, um dos mais experientes negociadores brasileiros em matéria de comércio. Afastado das negociações comerciais, o embaixador observa de seu posto os movimentos ocorridos em Genebra e não se mostra muito satisfeito com o que vê. Graça Lima constata que os Estados Unidos, que, nos últimos anos, até aumentaram o volume de subsídios proibidos pelas regras da OMC, não têm como se comprometer com a aprovação de medidas liberalizantes pelo Congresso. Os europeus, que recentemente reformaram a Política Agrícola Comum (PAC), responsável pelo gasto de 45% de seu orçamento comunitário, 106 bilhões de euros, com apoio aos produtores rurais, não têm condições de expandir essas mudanças. Para o ex-negociador brasileiro, o resultado previsível dessa rodada de negociações será uma abertura "pouco ambiciosa" em matéria de agricultura, principal tema de debate na OMC, o que levará a uma redução também tímida nas barreiras impostas pelos países em desenvolvimento para setores de interesse dos países ricos, o fornecimento de serviços e comércio de mercadorias industrializadas. Os europeus se dizem prontos para oferecer, além da redução dos subsídios e aumento de cotas agrícolas previstos na nova PAC, a extinção dos subsídios à exportação. Mas o fim desses subsídios só será efetivado se os Estados Unidos também reduzirem seus próprios incentivos que distorcem a exportação, ressalvam os europeus, que condenam, entre outras políticas sensíveis, os programas de ajuda alimentar dos EUA, acusados de fomentar superprodução e competição desleal. É notável, na Bélgica, sede da Comissão Européia, o tom crítico adotado contra os Estados Unidos pelos responsáveis pelas negociações, do lado europeu. Seriam os americanos, na versão européia, o grande problema na discussão agrícola, pela recusa em mexer nos alentados subsídios aos produtores rurais. Antes críticos do G-20, formado pelo Brasil em 2003 com outros países em desenvolvimento para confrontar uma proposta comum de abertura agrícola feita então pelos EUA e pela Europa, os europeus agora comparam a participação do Brasil e da Índia ao papel que Canadá e Japão tiveram, na década de 80, na condução, com EUA e UE, da Rodada Uruguai. Os elogios ao G-20 não impedem, porém, que a qualquer momento, como lembra Graça Lima, Estados Unidos e Europa componham interesses para garantir os resultados desejados na OMC. Embora tenham divergências em alguns detalhes, europeus e americanos coincidem em pontos importantes, que pressionam países como o Brasil.