Título: Presidentes das CPIs devem estender investigações até 2006
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2005, Política, p. A6

As CPIs do Congresso, especialmente a que apura corrupção nos Correios, devem estender as investigações pelo menos até janeiro. De acordo com a avaliação de seus presidentes e relatores, em reunião ontem com o presidente do Senado, Renan Calheiros, as comissões precisam de pelo menos três a quatro meses para concluir os trabalhos. Para acelerar o ritmo dos CPIs, ficou decidida, na mesma reunião, a contração de duas empresas de consultoria para fazer o cruzamento dos dados disponíveis. O Senado também contratará o licenciamento de um software ('Analyst Notebook'), a um custo estimado de R$ 30 mil, hoje já utilizado pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal para estabelecer a relação entre a origem e o destino de recursos financeiros. A prorrogação dos trabalhos das CPIs é tudo o que o governo não deseja. Embalado pela vitória do deputado Aldo Rebelo na eleição para a presidência da Câmara, o Palácio do Planalto articula para abreviar as investigações e tentar retomar as votações no Congresso. Com isso, teria mais tempo para se recuperar da crise e entrar em 2006 em melhores condições para apresentar a recandidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às eleições. As oposição, pelo contrário, querem prolongar ao máximo a investigação, de modo a que Lula chegue ao próximo ano sob a ameaça de um processo de impeachment. Na reunião de ontem, os presidentes das CPIs dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), e dos Bingos, Efraim Moraes (PFL-PB), questionaram sutilmente Renan sobre as cobranças que o presidente do Senado fizera sobre as CPIs. Na véspera, Renan dissera que as comissões estavam "patinando" e perdendo o foco. Os dois, além de Amir Lando, presidente da CPI do Mensalão, já reclamavam nos bastidores que Renan estava tentando emparedar as CPIs e levá-las a abreviar as investigações, como desejava o governo. Renan reagiu e disse que a sociedade é que exigia respostas das CPIS. Como presidente da frente que defende o voto sim no plebiscito do desarmamento, Renan tem viajado por todo o país, pelo menos três dias por semana. "Por onde eu ando, sou cobrado. Quem responde às perguntas sobre pizza sou eu, não são vocês". Renan concordou com a prorrogação dos trabalhos, "se for necessário". O relator da CPI dos Correios, Osmar Serráglio (PMDB-PR), interveio e argumentou que a comissão já fizera seu trabalho, ao enviar "há mais de um mês" o relatório sobre os deputados que receberam recursos do suposto esquema de mensalão montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. "Cabe agora à Corregedoria da Câmara e ao Conselho de Ética fazerem o seu trabalho". As suspeitas dos presidentes das CPIs sobre Renan se devia ao fato de que o presidente do Senado estaria retardando a contração das auditorias. Renan defendia que fosse realizada uma licitação nos termos da Lei 8666, o que levaria muito tempo. Delcídio conseguiu um parecer da assessoria jurídica do Senado segundo o qual a concorrência poderia ser dispensada, devido ao caráter de urgência da contratação. Renan explicou que não era contra a contratação sem licitação, apenas queria se resguardar, pois ele assinará os contratos, que posteriormente serão analisados pelo TCU. Ele deixou também a escolha das empresas aos presidentes das CPIs. Há oito consultoras candidatas. Uma das empresas fará o cruzamento das movimentações financeiras dentro do país, além de analisar os números referentes também aos fundos de pensão e ao Instituto de Resseguros do Brasil. A segunda cuidará da movimentação financeira no exterior. As duas atenderão as CPIs dos Correios e do Mensalão e terão a seu dispor o software que permite esse cruzamento. É o mesmo utilizado pela Polícia Federal, o Ministério Público Federal, o FBI e a CIA, nos Estados Unidos. "O que eu quero é uma investigação com qualidade. As CPIs não podem deixar de responder quem abastece as contas", disse Renan Calheiros.