Título: Carta sugere vitória militar, diz especialista
Autor: Taciana Collet e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2004, Política, p. A-8

Pelo teor da carta de demissão, apresentada pelo ministro José Viegas, pode parecer uma vitória das Forças Armadas sobre o ministério liderado por um civil. Essa é a avaliação do cientista político João Roberto Martins Filho: "Ele estava sob pressão, mas pelo que pude observar, era o melhor ministro da Defesa desde a criação da pasta no governo Fernando Henrique Cardoso". Martins Filho diz ainda que a grande vantagem de Viegas no cargo era que ele era um civil que entendia de defesa, coisa diferente do vice-presidente José Alencar, um político que não é especialista na área. "O cargo é de confiança do presidente da República, mas entre Quintão (Geraldo Quintão, ministro da Defesa no governo FHC) e Viegas houve uma continuidade e o ministério começou a funcionar. Cair por causa de um incidente como esse é lamentável." O cientista político lamentou a demissão do ministro José Viegas, da Defesa. "Seria melhor que ele continuasse, pois Viegas estava tentando avançar no controle civil das Forças Armadas", disse Martins Filho, que é especialista em questões militares e é professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Para o cientista político, as Forças Armadas ainda não estão acostumadas a obedecer um civil. Martins Filho cita uma frase dita pelo comandante da Marinha de que eles não recebem ordens, mas orientações e pedidos. "Não existe uma disposição das Forças Armadas em aceitar que o chefe é o ministro da Defesa", afirmou Martins Filho que além do atributo de especialista em defesa, Viegas, por ser um diplomata, tinha um trânsito com os militares. A queda de Viegas, para o cientista político, pode mostrar que os interesses não se bastam nos comandos militares. "Pode haver pessoas interessadas no cargo, setores que ajudam na desestabilização do governo. Agora, com um novo ministro, volta-se à estaca zero." Pela passagem de Viegas na pasta, Martins Filho destaca alguns feitos entre eles o avanço no conceito de estratégia nacional, na integração das Forças Armadas, na convergência entre a política externa e a política de defesa. "Tenho minhas dúvidas se isso vai se manter", analisa o especialista da Ufscar.