Título: Indicação fortalece russos da Sukhoi na escolha dos caças da Força Aérea
Autor: Taciana Collet e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2004, Política, p. A-8

A nomeação do vice-presidente José Alencar para o Ministério da Defesa deve favorecer o consórcio que envolve a Sukhoi, empresa russa de aviação militar, na escolha dos 12 novos caças para equipar a Força Aérea Brasileira (FAB). Com a indicação, os russos ganham um importante interlocutor e aliado. Alencar chefia o lado brasileiro da comissão bilateral de alto nível com a Rússia, que foi criada há quatro anos e intensificou seus trabalhos na gestão do presidente Lula. Em outubro, quando liderava a última reunião da comissão em Moscou, Alencar quebrou o protocolo para fazer uma visita à fábrica da Sukhoi. Alencar conversou com diretores, assistiu a apresentações em vídeo e saiu impressionado com o que viu. Um alto funcionário do governo, que acompanhava o vice-presidente, chegou até a brincar que o Mercosul era contra a aquisição dos aviões da Sukhoi porque, mesmo sem levantar vôo, seriam capazes de bombardear os países vizinhos. A visita do vice-presidente à Sukhoi levou o presidente da Rússia, Vladmir Putin, a convidá-lo para um encontro que não constava originalmente da agenda de visita àquele país. Com isso, Putin mostrou ao vice-presidente a importância atribuída por seu governo à compra dos aviões pelo governo brasileiro. Mesmo se for provisória, a indicação de Alencar tende a beneficiar os russos na disputa porque a escolha está a ponto de ser feita. Entre os militares brasileiros, a saída de Viegas foi vista como positiva porque a preferência é pelo Sukhoi. Como o ex-ministro, que já foi embaixador em Moscou, estava muito envolvido com os russos, a escolha poderia ser tida como suspeita. Em entrevista há duas semanas, o ministro demissionário José Viegas disse que o anúncio do fornecedor dos caças sairá em novembro e já havia demorado "muito mais" do que ele próprio esperava. Há quatro fabricantes no páreo: a Sukhoi, em parceria com a Avibrás, o consórcio Dassault-Embraer, os americanos da Lockheed e o consórcio anglo-sueco Gripen. Viegas já havia revelado que um dos concorrentes, os russos que fabricam o MiG-29, estão fora do páreo. Poucos acreditam que a Lockheed possa sair vencedora. Sukhoi e Dassault-Embraer disputam o favoritismo na escolha. O mercado tem a expectativa de que a visita do presidente russo ao Brasil, no dia 21, sele a decisão e o Palácio do Planalto faça o anúncio da compra de 12 caças - uma despesa de US$ 700 milhões que vem sendo adiada desde os últimos meses do governo anterior. Segundo fontes russas, o pacote para a venda dos aviões envolveria a transferência de tecnologia e redução nas tarifas para a exportação de produtos brasileiros à Rússia. O fim do embargo às carnes do país também estaria condicionada à aquisição dos caças Sukhoi. A Embraer poderia ser beneficiada com a venda de jatos para a Aeroflot, a estatal russa de aviação civil. "A Aeroflot pertence ao governo russo. Se o Brasil decidir pelos Sukhoi, Putin pode assinar a aquisição dos aviões da Embraer na hora", afirmou uma autoridade russa. Além da escolha dos caças para renovar os caças da FAB, Alencar terá que adotar um modelo temporário até 2007. Os atuais Mirage, que ficam na base militar de Anápolis (GO), deverão ser aposentados em 2005. Mas o vice-presidente lidará ainda com outras definições, como a permanência das tropas brasileiras em missão de paz no Haiti. Os soldados devem ficar no país pelo menos até a realização de eleições, em novembro do ano que vem. Alencar também será responsável pelo formato definitivo de um pacote para reestruturar a Varig e estimular a saúde financeira das demais companhias aéreas. O plano de socorro à Varig está adiantado e pode ser divulgado nas próximas semanas.