Título: Bush anuncia prioridades de seu segundo mandato
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2004, Internacional, p. A-9

Agenda interna Reforma da Previdência e corte de impostos são destaque O presidente reeleito dos Estados Unidos, George W. Bush, apresentou ontem suas prioridades internas para o segundo mandato: reforma da Previdência, continuidade dos cortes de impostos e combate ao terrorismo. A reforma da Previdência deve provocar as maiores resistências. "Eu ganhei capital político na campanha e agora pretendo gastá-lo no que disse à população que faria", disse Bush na primeira entrevista concedida à imprensa após sua vitória na eleição. Bush disse que começará a discutir a reforma previdenciária imediatamente, "reunindo aqueles no Congresso que concordam com minha avaliação de que é necessário trabalhar conjuntamente", disse, referindo-se à oposição. A proposta do Executivo é mudar o atual sistema de repartição - no qual os trabalhadores da ativa pagam os benefícios dos aposentados - por um sistema de depósitos em contas particulares. A transição entre os dois sistemas deve custar até US$ 2 trilhões. Bush disse esperar que o Congresso americano, que volta aos trabalhos este mês, envie ao Executivo a previsão de Orçamento para o ano que vem considerando o tamanho do déficit público. Em seu primeiro mandato, Bush não rejeitou os sucessivos pedidos de aumento de despesas. Mas não respondeu a perguntas sobre aumento de custos na invasão do Iraque. Na segunda-feira, assessores da Presidência informaram que pediriam US$ 75 bilhões adicionais ao Congresso para financiar a operação. Antes de conceder a entrevista coletiva, o presidente fez a primeira reunião ministerial depois de três meses envolvidos na campanha para a reeleição. A primeira saída da atual equipe de governo será a do Secretário da Justiça, John Ashcroft, que renunciará em até duas semanas. Além de ter passado por recentes problemas de saúde, Ashcroft, criador do chamado "Ato Patriota", legislação desenhada para o combate ao terrorismo mas muito criticada por limitar liberdades individuais, sofreu desgaste por problemas na aplicação da lei, com prisões consideradas arbitrárias, e memorandos escritos por sua equipe orientando militares a usar tortura nas prisões iraquianas. Entre os possíveis substitutos, estão o ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, que poderia agradar à oposição por ser um republicano moderado, ou Alberto González, assessor da Presidência, e Marc Racicot, diretor da campanha de reeleição. Há ainda a hipótese de Larry Thompson, que foi subsecretário de Ashcroft até 2003 e comandou investigações do governo sobre fraude corporativa. Mas o advogado é vice-presidente da PepsiCo há menos de três meses. O presidente Bush não comentou as especulações, dizendo que iria ontem à tarde para a residência oficial de Camp David com a primeira dama e que começaria a discutir as mudanças no gabinete. Sobre a possibilidade de indicar novos juízes para a Suprema Corte, por causa da doença de seu presidente, William Rehnquist, Bush disse que "lidará com uma vaga quando ela existir". No primeiro mandato, dez juízes indicados para cargos em outros tribunais foram rejeitados pelo Congresso americano por serem vistos como extremamente conservadores. O senador republicano que deve chefiar o Comitê do Judiciário do Senado, Arlen Specter , da Pensilvânia, alertou ontem o presidente a evitar a indicação de juízes que pretendam extinguir o direito de aborto ou que sejam conservadores demais para ganhar o apoio dos democratas. Specter citou os bloqueios que ocorreram durante o governo anterior pelos democratas. Além de Rehnquist, outros dois juízes podem se aposentar, como John Paul Stevens, um dos quatro liberais da corte, indicado pelo ex-presidente democrata Jimmy Carter, que tem 84 anos. A juíza Sandra O'Connor tem 74 anos de idade e apesar de ter sido indicada pelo conservador Ronald Reagan, já tomou decisões a favor de liberais.