Título: GTech contrata ex-embaixadora para lobby
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2005, Política, p. A8

Apesar de estar no centro das investigações da CPI dos Bingos, a Gtech tem planos de continuar na Caixa Econômica Federal após o vencimento do atual contrato, em 2006. "Se a Caixa quiser crescer com loterias, terá que contar com a nossa estrutura", diz o presidente da multinacional no Brasil, Fernando Cardoso. Segundo ele, a estatal explora só 16% do mercado potencial de jogos no Brasil, estimado pela empresa em US$ 9 bilhões por ano. Cardoso afirma que já foi concluída uma investigação interna sobre o episódio de 2003, mas se recusa a relatar as conclusões. "Somos a Escola Base do mercado corporativo", insiste ele. A Gtech entrou na Caixa em 1997, sem ter ganhado qualquer licitação. Ela comprou as duas empresas - a Racimec e a SB - que formavam o consórcio vencedor da concorrência. Contrariando dois pareceres jurídicos internos, os diretores da Caixa acabaram admitindo que a multinacional assumisse o processo vencido pelas duas empresas. Auditoria feita pela própria Caixa constata que esse não foi o único episódio controverso na relação com a Gtech. Técnicos responsáveis pela auditoria manifestam estranhamento, por exemplo, com a "renúncia indevida" de dívidas da múlti americana com a estatal. Uma multa contratual de R$ 3,043 milhões foi recebida pelo valor de R$ 471 mil. Durante anos, a Caixa tentou "fracionar" a licitação, ou seja, contratar empresas diferentes para cada etapa dos jogos lotéricos - um processo que envolve desde distribuição dos suprimentos até o processamento de dados. O lobby da Gtech contra a iniciativa foi forte. Além de buscar liminares na Justiça para barrar os planos da Caixa, mobilizou congressistas aqui e lá fora. O deputado americano Patrick Kennedy, de Rhode Island, mandou em setembro de 2002 uma carta pró-Gtech à então embaixadora americana no Brasil, Donna Hrinak, que a entregou pessoalmente ao chefe da Casa Civil à época, Pedro Parente. (DR)