Título: Sigilo abre nova suspeita sobre Buratti
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2005, Política, p. A8

Crise Acareação confrontará ex-assessor de Palocci com Waldomiro e outros três envolvidos no caso Gtech

O escândalo da renovação do contrato da Gtech com a Caixa Econômica Federal terá hoje uma das últimas oportunidades de ser solucionado, com a acareação marcada na CPI dos Bingos entre os cinco principais suspeitos de irregularidades no caso. A atenção de técnicos e parlamentares voltou-se novamente, nos últimos dias, para o advogado Rogério Buratti, um dos principais assessores do ministro Antonio Palocci na primeira gestão como prefeito de Ribeirão Preto. Os dados de sigilo telefônico em poder da CPI demonstram que a "República de Ribeirão" manteve contatos intensos entre os dias 1º e 8 de abril de 2003, a semana decisiva para a assinatura do contrato entre Gtech e Caixa. Buratti trocou 47 ligações com Ralf Barquete, o ex-secretário de Palocci no interior de São Paulo que assumiu um cargo de consultor na presidência do banco estatal e morreu em 2004. A cada contato entre eles, seguiam-se inevitavelmente telefonemas entre Ralf e o celular de Ademirson da Silva, uma espécie de ajudante de ordens que quase sempre carrega as pastas de Palocci para onde quer que ele vá. Foram 59 contatos entre os dois, mas o ministro afirma que em nenhuma ocasião utilizou o aparelho de Ademirson para falar com Ralf. Buratti é suspeito de ter influenciado a renovação do contrato. A Gtech o acusa de ter cobrado propina de R$ 6 milhões, e ele rebate dizendo que foi a empresa quem ofereceu até R$ 16 milhões para que usasse seus contatos no Ministério da Fazenda em favor da multinacional. As duas versões passam pela figura de Enrico Gianelli, o advogado que assistia a Gtech e também trocou um número surpreendente de ligações com Buratti naquela semana - foram 35 telefonemas. Buratti, Gianelli, o ex-subchefe da Casa Civil ,Waldomiro Diniz, o ex-diretor da Gtech Marcelo Rovai e o empresário Carlos Cachoeira serão confrontados na acareação. Após a quebra do sigilo bancário de todas as contas de Buratti e dos seus familiares, a CPI constatou que a movimentação financeira do advogado entre o início de 2004 e março de 2005 não explica como ele conseguiu aumentar seu patrimônio de forma tão acentuada nesse período. As contas não registram saída de recursos que evidenciem o pagamento das propriedades rurais e das empresas de ônibus compradas por Buratti. Para a comissão, isso significa que o dinheiro utilizado para o pagamento das transações pode ter sido oriundo de esquemas irregulares. Buratti tinha uma fazenda em Ituverava (SP) que valia R$ 260 mil, vendeu-a e comprou uma propriedade rural em Pedregulho, também no interior paulista, por R$ 600 mil. Essa é a única transação mobiliária que tem correspondência com a sua movimentação financeira - uma saída de R$ 340 mil para pagar a diferença. Daí em diante, não há explicação para a troca daquela fazenda por outra de R$ 1,2 milhão em Buritizeiro (MG) e a posterior aquisição de duas empresas de ônibus, registradas com o valor de R$ 2,6 milhões. Procurado pela reportagem, Buratti respondeu os questionamentos com tranqüilidade e afirmou que os valores de suas propriedades são apenas nominais, não refletindo as transações efetivamente feitas. "Não há movimentação bancária porque o dinheiro não existe. Depois da fazenda em Pedregulho, passei de pagador para recebedor", disse. A CPI vai exigir hoje que os acareados entreguem seus passaportes. O objetivo é investigar viagens ao exterior. Buratti omitiu à comissão, em seu segundo depoimento, uma viagem que fez a Portugal em julho de 2003. A comissão só descobriu que ele esteve em Lisboa porque seu celular foi habilitado em Portugal. Ao Valor, Buratti afirmou que viajou para participar de reunião do conselho de administração da Triângulo do Sol, concessionária de rodovias paulistas com investimentos portugueses, da qual era membro, representando a empreiteira Leão Leão. De Portugal, ele alega ter ido para o sul da Espanha e para Madri, de onde pegou o avião de volta ao Brasil. No mesmo dia, o ministro Palocci integrou-se à delegação brasileira que acompanhava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em visita oficial ao país. "Estivemos apenas seis horas na mesma cidade, e eu não saí do aeroporto", disse Buratti. Hoje, ele pretende levar novas à CPI novas informações sobre o caso Gtech. O ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, também foi convocado por ter assumido que a executiva do PT Nacional sabia do caixa dois