Título: Corretoras dos fundos de pensão têm sigilo quebrado
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2005, Política, p. A8

Com as brigas contidas e o quórum refeito, a CPI Mista dos Correios voltou novamente ontem às investigações sobre corrupção e tráfico de influência no governo. A oposição conseguiu, num acordo com os governistas após a paralisia de quase um mês, convocar o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrela, e o dono da empresa de engenharia GDK, César Oliveira, para esclarecer irregularidades constatadas pelo Tribunal de Contas da União. A oposição quer saber a natureza das relações entre a estatal e a GDK, que presenteou com um jipe Land Rover o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira. Os oposicionistas pouparam o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli.

Desobstruída a longa pauta de requerimentos, os parlamentares decidiram quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico de onze corretoras (ver tabela ao lado) investigadas por supostos prejuízos de R$ 9 milhões a seis fundos de pensão ligados a estatais em operações de curto prazo com títulos públicos. A oposição, na CPI, suspeita que as operações desviaram recursos dos fundos de pensão ao esquema operado por Marcos Valério para alimentar o caixa 2 do PT e de aliados. Os governistas barraram duas vezes a quebra de sigilo. Flávio Snell, dono da corretora Elite, disse que aguarda um comunicado oficial do Congresso. Ele disse ter feito um levantamento de todas as operações realizadas pela Elite desde 2002 e não encontrou "nada que seja motivo para quebra de sigilo bancário, não tem nenhuma operação que tenha gerado grande ganho para nós". "Pode até ser que eu tenha feito alguma operação com fundos de pensão, mas com certeza foi de pequeno valor", afirmou Snell. Ele explicou que as corretoras só têm acesso aos dados de suas "contrapartes", ou seja, de quem comprou os títulos e para quem vendeu, portanto, ele não poderia afirmar com certeza se fez algum negócio em nome de fundos de pensão. Todas as demais corretoras e distribuidoras de valores citadas na CPI dos Bingos foram procuradas ontem e retornaram as ligações do Valor. Numa sessão relativamente tranqüila, os parlamentares aprovaram ainda a convocação do secretário de Previdência Complementar, Adacir Reis, indicado ao cargo pelo ex-ministro Luiz Gushiken, atual chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência. Gushiken admitiu ter influência nos fundos de pensão, que são fiscalizados por Adacir. A comissão requisitou o sigilo de dez fundos de pensão em poder da CPI Mista do Mensalão - Previ, Funcef, Petros, Portus, Serpro, Eletros, Geap, Centrus, Real Grandeza e Postalis. O foco no governo, pra detectar desvio de verbas públicas para o PT e aliados, seguirá com a convocação do ex-presidente do IRB Brasil, Lídio Duarte, chamado para explicar uma suposta obrigação de arrecadar R$ 400 mil mensais para o PTB, responsável por sua indicação ao cargo. A CPI quebrou ainda o sigilo do ex-presidente dos Correios, ex-deputado João Henrique Almeida (PMDB-PI), e do ex-diretor de Tecnologia da estatal, Eduardo Medeiros, indicado pelo petista Silvio Pereira. Os governistas também avançaram na tentativa de vincular o banqueiro do Opportunity ao mensalão. Aprovaram o acesso às informações dos computadores do Opportunity, apreendidos em 2004 pela PF nas investigações do caso de espionagem do ex-ministro Luiz Gushiken e de Andrea Calabi (ex-Banco do Brasil) pela Kroll. Dantas conseguiu impedir, na Justiça, a análise dos dados pela PF. "Agora, não vai dar mais para bloquear", disse o deputado Jamil Murad (PCdoB-SP). Na mesma linha, aprovaram um pedido para abrir a lista de todos os cotistas do Opportunity Fund nas Ilhas Cayman. Os governistas também conseguiram acesso a uma lista do Banco Central com todos os contratos, empréstimos e garantias entre o Banco Rural e as empresas de Marcos Valério desde 2000. O pedido pode atingir o senador tucano Eduardo Azeredo (MG). Aprovaram ainda a requisição ao Ministério da Fazenda de todos os processos do Banco Rural desde 1994. A CPI também requisitou ao Banco do Brasil auditorias dos últimos cinco anos na Visanet e na Servinet. A Visanet foi a terceira maior depositante nas contas de Marcos Valério, com R$ 91,4 milhões. A CPI quebrou o sigilo do grupo Bonus Banval e do doleiro Najun Turner. Por último, a CPI aprovou a convocação dos doleiros Dario Messer e Alberto Youssef. Messer é apontado como operador de supostas contas do PT no exterior. Youssef teria contado, na prisão, a Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que o PP recebeu R$ 8 milhões do esquema de Marcos Valério.(Colaborou Janes Rocha, de São Paulo"