Título: Vasp pode ficar fora do resgate da Varig
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2004, Empresas, p. B-3

Ainda depende de um contorno jurídico a reestruturação que o governo pretende fazer na Varig. A montagem de uma operação financeira para salvar a companhia aérea está avançada, segundo um técnico que acompanha de perto as discussões, mas teme-se a abertura de brechas legais que possibilitem ajuda semelhante à Vasp. É esse escudo jurídico, para evitar que o socorro dado a uma empresa seja necessariamente estendido a outra, que o governo precisa encontrar. Ao assumir o Ministério da Defesa, que lidera as negociações sobre o setor aéreo, o vice-presidente, José Alencar, encontrará um ambiente favorável à Varig e contrário à Vasp em todo o governo. Luiz Carlos Martins, presidente da primeira empresa, tem uma administração bem-vista e conquistou o respeito da Infraero, do ministro demissionário José Viegas e da Casa Civil. Já a Vasp reduziu muito a participação de mercado, atualmente em pouco mais de 8% nos vôos domésticos, e o governo acredita que a sua quebra será absorvida rapidamente pelo setor. Além disso, o empresário Wagner Canhedo é tido como um negociador pouco confiável, que não mantém a palavra e rompe acordos. No que depender de ajuda estatal, a Vasp não sairá da crise. A exigência de tratamento igualitário já aconteceu no mês passado, quando a Infraero jogou duro nas negociações com a Vasp para reaver R$ 11,6 milhões que a empresa deve à estatal somente desde julho. Adotando a postura de ameaçar a empresa de Canhedo até com processo judicial baseado na acusação de apropriação indébita das taxas de embarque dos passageiros, a Infraero se viu obrigada a endurecer também com a Varig para cobrar uma dívida maior, de quase R$ 150 milhões, mas de caráter diferente - envolve a falta de pagamento das operações aeroportuárias em geral. A reestruturação da Varig, no entanto, não virá de forma isolada. Ao mesmo tempo, deverão ser adotadas medidas para revitalizar a aviação civil e estimular a saúde financeira das aéreas. Isso envolve um conjunto de iniciativas para reduzir os custos das companhias, como a mudança na forma de cálculo do preço do querosene, que pode reduzir em cerca de 16% o valor do combustível. Outra medida em estudo é a criação de um mecanismo de financiamento em moeda nacional, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para a compra de aviões da Embraer. Nenhuma das quatro grandes companhias do setor opera jatos nacionais hoje. Procedimentos aduaneiros devem ser tomados para facilitar a importação de peças para aeronaves, já que a simples chegada de uma peça pode enfrentar várias semanas de burocracia, aumentando custos. Alterações tributárias também estão sendo estudadas.