Título: BC amplia a fiscalização a cooperativas
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2005, Finanças, p. C1

Crédito Crescimento de instituições motiva monitoramento mais rigoroso

O Banco Central decidiu ampliar o monitoramento sobre as cooperativas de crédito, após a constatação de que estão assumindo papel cada vez mais importante no sistema financeiro nacional. Foram realizadas inspeções gerais consolidadas (IGCs) nas cooperativas com patrimônio líquido acima de R$ 40 milhões, e foi criado um mecanismo para acompanhar mais de perto as atividades das 100 maiores do segmento. Norma aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) também torna mais rigorosa a supervisão do segmento. "O reforço na fiscalização das cooperativas não significa que tenhamos detectado qualquer fragilidade", disse o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Sérgio Cavalheiro. "Decidimos apenas acompanhar as atividades mais de perto porque, com a criação as cooperativas de livre admissão, as cooperativas viraram uma espécie de minibanco regional." Na semana passada, o CMN aprovou resolução que amplia a atuação das cooperativas, aproximando-as das regras vigentes para os bancos. Essas instituições poderão se instalar em cidades com até 300 mil habitantes, e sua alavancagem foi ampliada. Em contrapartida, a resolução tornou mais rigorosa a regra de supervisão, adotando princípios para auditoria muito semelhantes aos aplicados aos bancos. Para acompanhar mais de perto a evolução do segmento, o Departamento Econômico do BC está finalizando um projeto para que, a partir dos próximos meses, os empréstimos concedidos pelas cooperativas passem a ser contabilizados nas estatísticas oficiais sobre o volume de crédito na economia. Um levantamento preliminar, divulgado no relatório de inflação do BC de setembro, mostra que a carteira das cooperativas saltou de R$ 2,6 bilhões para R$ 9 bilhões, entre julho de 2000 e julho de 2005. No mesmo período, o número de cooperativas de crédito no país saltou de 1.216 para 1.436. Cavalheiro diz que, a partir da crise bancária do Plano Real, a prioridade da fiscalização do BC foi reforçar a supervisão sobre os bancos, com a realização de IGCs em cada uma das instituições. Após quase dez anos de trabalho, a autoridade fiscalizadora, afirma, pode dirigir maior atenção para outros segmentos, como as cooperativas e os consórcios. Dentro dessa lógica, foi criado recentemente o Departamento de Supervisão de Cooperativas e Instituições Não-Bancárias e de Atendimento de Demandas e Reclamações (Desuc). O alvo principal da fiscalização são as cooperativas centrais. O BC pretende, em primeiro lugar, garantir a solidez dessas cooperativas centrais, das quais depende a sorte de dezenas e centenas de cooperativas singulares. O BC também quer reforçar o papel das cooperativas centrais como agentes fiscalizadoras das singulares. "Como as cooperativas centrais concentram recursos das singulares, elas têm informações detalhadas sobre as filiadas", observa Cavalheiro. A resolução do CMN impôs, de um lado, regras mais rigorosas para as auditorias que as cooperativas centrais devem fazer nas singulares. A regra concede, de outro, poderes à fiscalização do BC para - se considerar insatisfatória a ação de monitoramento de uma cooperativa central - exigir auditorias externas, impor limites operacionais mais restritivos e impedir que ela filie novas cooperativas singulares.