Título: Retaliação no caso do algodão inviabiliza acordo
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2005, Brasil, p. A2

O novo pedido de retaliação que o Brasil fará hoje contra os Estados Unidos na Organização Mundial de Comércio (OMC) em represália a subsídios ilegais a produtores de algodão deixa dessa vez pouca margem para acordo com Washington. A situação é diferente da de julho deste ano, quando o governo brasileiro pediu direito de retaliar os EUA em US$ 2,9 bilhões, mas aceitou adiar para dezembro a ação na OMC. É que antes de os árbitros decidirem o valor da retaliação, teria que haver outro painel para examinar se medidas adotadas pelos EUA eram suficientes ou não para dar cumprimento às recomendações da OMC, de modificar subsídios proibidos à exportação. O caso de hoje envolve subsídios domésticos, e os EUA não fizeram nada, nem mesmo anunciaram intenções. "Se houver algum entendimento agora, será necessariamente de teor diferente do que aconteceu em julho, mas não há nada no momento", segundo afirmou fonte do governo brasileiro. A Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) não quer nem ouvir falar de acordo com os EUA. Os produtores, que gastaram US$ 3 milhões com a disputa, ficaram irritados com o ministro do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, que em visita a Washington acenou em não retaliar no caso do algodão em troca de melhor acesso para vender etanol. No caso de subsídios proibidos à exportação, o governo americano chegou a mostrar a funcionários brasileiros um projeto para revogar até dezembro o programa "Step 2". Por esse programa, os EUA compensam exportadores e indústrias, neste caso pela compra do produto americano mais caro. Mas produtores dos EUA vêm insistindo na manutenção do "Step 2" até 2006. Se isso se concretizar, a trégua aceita por Brasilia só deu tempo adicional para os EUA continuarem desrespeitando a decisão da OMC.(AM)