Título: Correios deixam de ganhar com franquias
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2005, Política, p. A10

Os Correios deixarão de ganhar neste ano R$ 10 milhões com a transferência para suas franqueadas de negócios com quatro grandes clientes estratégicos, admitiu ontem o diretor regional da estatal em São Paulo, Marco Antônio Vieira da Silva em depoimento à CPI Mista dos Correios. A decisão, tomada em conjunto por Silva e o ex-diretor comercial da estatal, Carlos Eduardo Fioravanti, é duramente criticada num relatório de auditoria feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para a comissão. Num depoimento de quatro horas à sub-relatoria de Contratos, Silva falou com naturalidade sobre a decisão, tomada no início deste ano. "Claro que estou perdendo dinheiro se considerado apenas o ponto de vista econômico. Deixei de ganhar R$ 10 milhões pela migração desses clientes", disse. "Com certeza, se fizer um estude vou constatar que não deveria ter feito", admitiu. Os Correios permitiram a migração de negócios com os bancos Itaú, Unibanco, Santander Banespa e Real ABN Amro sem nenhum estudo de viabilidade econômica, segundo o TCU. Gestor da principal e mais lucrativa diretoria regional do país, Silva defendeu a migração como o "restabelecimento de um relacionamento ético" com as franqueadas. "Tirei deles esses clientes de forma brutal porque achávamos que as franquias acabariam em 2002", justificou. Segundo ele, faltam "regras claras" para reger as relações comerciais entre a estatal e sua rede franqueada. "Isso foi feito por uma questão ética". Ele disse ter sido indicado ao cargo pelo atual prefeito de Osasco, Emídio de Souza (PT), em março de 2003. A migração, segundo o TCU, calculou a média histórica com base nos seis meses anteriores quando deveria ter feito num período maior para evitar distorções que prejudicariam a estatal. "São evidentes as perdas na migração de clientes para as franqueadas, inclusive pelo cálculo adotado", disse o sub-relator José Eduardo Cardozo (PT-SP). "Entre a ética pública e o mundo privado, optou-se claramente pelo segundo". O diretor regional dos Correios disse também que a estatal contabiliza um prejuízo de R$ 40 milhões com fraudes detectadas em diversas agências franqueadas. Esse dinheiro não será recuperado porque os donos das franquias "sumiram" ou porque as dívidas são "impagáveis", disse Silva. Entre as fraudes mais comuns, disse ele, estão a apropriação indébita do dinheiro por meio da não contabilização de objetos postados nas franqueadas em função de fraudes nas máquinas mecânicas de franqueamento. "O volume financeiro não batia com o físico apurado nas agências". Houve também casos de clonagem de máquinas. Silva afirmou que pelo menos 250 franquias fechadas as portas por fraudes ao Erário desde 1990. Parlamentares da CPI suspeitam que os negócios com as franqueadas escondam um financiamento de campanhas políticas em troca da transferência de titularidade das agências para "laranjas" dos verdadeiros donos. "Há um estranho cipoal de relações nos Correios", afirmou Cardozo. As franqueadas são uma potência. As 1.483 agências faturam R$ 2 bilhões por ano e embolsam R$ 600 milhões em comissões pagas pelos Correios por serviços postais, segundo Silva.