Título: Assessor complica situação de Adauto
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2005, Política, p. A10

Ao depor durante duas horas e quarenta minutos à CPI Mista do Mensalão, José Luiz Alves, ex-chefe de gabinete do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto (PL-MG), complicou ainda mais a sua situação e a do padrinho político. No depoimento, Alves afirmou ter ido apenas cinco vezes ao Banco Rural fazer saques a mando de Adauto entre agosto de 2003 e janeiro de 2004. Disse ter recebido R$ 200 mil das contas da SMP&B e reconheceu a falta de assinatura de recibo. Para completar, afirmou que o dinheiro foi repassado por ordem do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para quitar dívidas constantes na declaração de Imposto de Renda do ex-ministro. "O senhor retirou dinheiro, sem recibo algum, para pagar dívidas pessoais da declaração de renda do ministro. Quem disse que isso não é um ilícito? Isso é muito grave! É crime contra o sistema financeiro fazer qualquer retirada acima de R$ 10 mil sem assinar recibo ou declaração. Se o senhor fosse flagrado na época, era para ser preso em flagrante. O senhor e o ministro", disse o deputado Moroni Torgan (PFL-CE), ao fazer perguntas ao depoente. Alves tentou se defender: "Quem deve pedir para eu assinar o recibo é quem passa o dinheiro. O senhor (Torgan) deve pedir explicações ao banco". Hoje, Alves é secretário de governo de Uberaba, onde Adauto é prefeito. Alves afirmou que foi cinco vezes ao Rural receber dinheiro de um funcionário do banco chamado Renato. Teria retirado R$ 200 mil da agência. O empresário Marcos Valério de Souza, dono da SMP&B, afirma ter repassado R$ 1 milhão a Alves em 17 ocasiões. A sub-relatora da CPI, Zulaiê Cobra (PSDB-SP), desmontou o depoimento do assessor de Adauto. "Tenho comprovantes do sistema de segurança do shopping onde fica o banco de pelo menos sete visitas do senhor ao Rural", disse a deputada. As visitas batem com alguns dos saques apontados por Valério. Zulaiê também revelou 17 telefonemas entre a SMP&B e o número de Alves. "Eu acho que ele fez acordo com Adauto. O ex-ministro vai ter de ser convocado", disse Zulaiê. Ela revelou que as desconfianças recaem agora sobre o irmão de Adauto, Edson Pereira de Almeida. O nome dele consta da lista de Valério, mas só no depoimento de ontem os parlamentares descobriram que se tratava de um parente do ex-ministro. A CPI aprovou a convocação de Ricardo Sérgio Oliveira, diretor internacional do Banco do Brasil no governo Fernando Henrique Cardoso, acusado de ter repassado dinheiro a deputados para comprar votos a favor da emenda da reeleição, em 1997. Aprovou também a acareação entre Marcos Valério e sua assessora Simone Vasconcelos com Jacinto Lamas, Emerson Palmieri, João Cláudio Genu, o próprio Alves, Manoel Severino dos Santos e o ex-deputado Valdemar da Costa Neto.