Título: PT, PCdoB e PSB unem-se contra política econômica
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2005, Política, p. A11

Crise Tarso quer rever 'blindagem' da economia pelo Campo Majoritário

A condução dos debates sobre a política econômica e a construção de alianças em 2006 sofrerá uma significativa alteração no PT, independente de quem assuma a presidência da legenda. A análise foi feita ontem pelo atual presidente do partido, Tarso Genro, que uniu-se aos presidente do PCdoB, Renato Rabelo, e do PSB, Roberto Amaral, para discutir uma agenda de interesse comum da esquerda com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo. Para Tarso, o Campo Majoritário do PT, que hoje já não tem mais maioria na legenda, construiu uma espécie de "blindagem" para impedir questionamentos sobre os rumos da política econômica. "É dever de qualquer partido discutir a política econômica. Sem paixão, sem sectarismo", pregou. Esse mesmo grupo, opinou Tarso Genro, também foi decisivo para que o PT se organizasse em torno de um governo de coalizão cujo eixo preponderante deixou de ser a esquerda. "Teremos agora no PT maiorias temáticas. Sobre a política de alianças, haverá nova maioria", afirmou ele. Essa maioria, na avaliação do petista, defenderá que o partido se volte para as alianças históricas de esquerda, ligadas a movimentos populares e sociais. Preocupado em não criticar abertamente o antigo grupo dirigente do PT - com integrantes como José Dirceu e José Genoino -, Tarso Genro disse que essa forma de atuação do Campo Majoritário pode ter sido correta no passado, "mas se esgotou". A união dos presidentes dos três partidos é emblemática e reforça a tese de que a eleição de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara está intimamente ligada à sucessão presidencial de 2006. Segundo Tarso, PT, PCdoB e PSB têm a "pretensão inicial" de construir, a partir de agora, uma unidade congressual que tenha frutos na eleição presidencial. "O esforço de recompor os campos de esquerda, nas condições atuais, é tarefa importante", emendou Renato Rabelo. PDT e PPS, também do campo da esquerda, tentam marchar unidos, mas contra o governo. Na eleição da Câmara, aproximaram-se da oposição. O P-SOL se apresenta como a esquerda mais radical. Os dois grupos devem lançar candidatos à Presidência da República. Quando questionado se a esquerda brasileira estava encolhendo, já que apenas três legendas se uniam em torno desse projeto comum, Tarso reagiu: "A esquerda está cada vez mais otimista e começa a ficar cada vez mais forte no país. Estamos muito orgulhosos da eleição de Aldo Rebelo. Com isso, a esquerda se valoriza e se coloca como ponto importante do fortalecimento das instituições no país". A esquerda, acrescentou ele, está consciente de que precisa construir uma unidade não só nos momentos de vitória - como na eleição de Aldo -, como nas horas de crise. "Queremos a reafirmação de um projeto de política de centro-esquerda no país", disse o petista. De acordo com Roberto Amaral, a preocupação dos dirigentes partidários das três legendas é fortalecer a base parlamentar de esquerda para, num segundo momento, criar um ambiente político favorável a mudanças de rumo no governo. "Para que os rumos do governo estejam mais próximos dos nossos ideais", justificou o presidente do PSB. Um ponto central que une os partidos é a votação da proposta de emenda constitucional que cria o Fundeb, o fundo do ensino fundamental e médio. Seriam destinados, em 13 anos, US$ 23 bilhões para a educação básica no país. Os três presidentes disseram ser favoráveis aos pontos centrais da reforma política. Sobre a verticalização, no entanto, a harmonia da esquerda não é tão consistente. PCdoB e PSB são contra a manutenção da regra que obriga os partidos a repetir nos Estados a mesma aliança nacional. Na Câmara, o PT é a favor da manutenção da verticalização. "A realidade política brasileira ainda não permite a verticalização, apesar de ser um passo importante", disse Renato Rabelo. "O PSB é absolutamente contra, até como tese. Achamos que é anti-democrático e fere o princípio federativo", enfatizou Roberto Amaral. Tarso Genro argumentou que o PT ainda está "construindo uma posição" sobre o tema, e disse não considerar a manutenção da regra fundamental para uma eventual reeleição de Lula. "Podemos negociar uma transição para essa questão", sugeriu. O presidente do PCdoB negou que os pequenos partidos estejam trabalhando para a queda da cláusula de barreira - outro dispositivo imposto na lei eleitoral pelo qual só terão representação política no Congresso os partidos que conseguirem no mínimo 5% dos votos válidos, em pelo menos nove Estados. "Não pensamos em simplesmente derrubar a cláusula de barreira. Quem disse isso? Já há um acordo aqui (na Câmara) de que a cláusula de barreira só passa para 2% se votada numa reforma política completa", garantiu o comunista. Os três presidentes disseram que Aldo está credenciado a buscar consensos na reforma política.