Título: Semente transgênica de algodão no foco da MDM
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2005, Agronegócios, p. B12

Estratégia Empresa já tem autorização do governo para produzir

A MDM - joint venture entre o brasileiro Grupo Maeda e a americana DeltaPine - deverá ser a primeira empresa a ofertar sementes transgênicas de algodão no país, a partir da safra 2006/07. Há pouco mais de dez dias, a empresa recebeu aval do Ministério da Agricultura para iniciar a multiplicação dessas sementes. "Ainda não há volume disponível. O produtor precisará ter paciência até que as sementes cheguem ao mercado", esclarece Pedro Maeda, presidente da MDM e membro do conselho de administração do Grupo Maeda. Ele diz que a empresa optou por multiplicar as sementes em 2005/06 para ofertá-las na safra seguinte em volume suficiente para atender à demanda. Maeda estima que em 2006/07 cerca de 50% da área plantada de algodão no país será ocupada pelo produtor transgênico, o que demandaria um volume de sementes próximo a 6,5 mil toneladas. O plano da empresa, segundo ele, é substituir parte da produção de variedades convencionais pelas geneticamente modificadas. Em 2004, a MDM produziu 10 mil toneladas de sementes. Ele preferiu manter em sigilo a previsão de produção e receita para este ano. Em 17 de março deste ano, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou o uso comercial no Brasil da semente transgênica Bollgard, produzida pela americana Monsanto. Em maio, a a MDM, única empresa licenciada no país para produzir a variedade, importou 2,2 mil quilos de sementes vindas da Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos. O produto foi submetido à quarentena pelo Ministério da Agricultura para a realização de testes de riscos ambientais. Pela legislação, as sementes devem ser testadas durante duas safras em ensaios de valor de cultivo e uso (VCU) para verificar que riscos o produto pode causar ao ambiente - trabalho que demora pelo menos dois anos. Marcus Vinicius Coelho, coordenador de biossegurança do Ministério da Agricultura, observa, porém, que quando a semente é obtida a partir da introdução de um gene em uma variedade convencional que já possui registro, são necessários ensaios apenas em uma safra. No caso da MDM, a variedade liberada pelo governo é a Calla 90, resultado da inclusão da tecnologia Bollgard em uma semente convencional que já tinha registro no ministério. A empresa garante que os ensaios foram feitos e aprovados pelo governo. Segundo Coelho, do ministério, a empresa possui outras sementes importadas em processo de quarentena ou registro. Maeda diz que aguarda a definição do zoneamento agrícola pelo ministério para iniciar o plantio. A previsão é que as normas sejam publicadas no Diário Oficial até o início da próxima semana. Helio Tollini, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), considera lentas as decisões do governo sobre o assunto. "Há uma falta de consciência de que o setor precisa se manter competitivo para concorrer no mercado internacional", diz ele. Tollini observa que o plantio comercial de algodão transgênico continua proibido por falta de semente legal no país. Em janeiro, a CTNBio estabeleceu em 1% o limite de transgenia em sementes de algodão convencional por conta da detecção de produção transgênica ilegal em 2004/05. Segundo Tollini, os produtores não pretendem importar a semente transgênica e vão aguardar, a contragosto, a oferta em 2006/07.