Título: Atividade tem acomodação em setembro
Autor: Sergio Lamucci e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Resultado da indústria é heterogêneo, embora indicadores antecedentes sugiram retração

A atividade econômica deu sinais de acomodação em setembro, depois do forte crescimento registrado em agosto. O desempenho da indústria tem sido bastante heterogêneo, com setores importantes como o de aços planos e o automotivo mostrando um resultado mais fraco, enquanto outros, como o de eletroeletrônicos, têm comportamento mais favorável. A produção de veículos e o consumo de energia em setembro sugerem retração da indústria, mas indicadores como a expedição de papelão ondulado e fluxo de veículos pesados ainda não foram divulgados, tornando prematura uma aposta na queda da atividade, segundo analistas. A indústria São Roberto é um exemplo de empresa que teve estabilidade da atividade em setembro. A expedição de papelão ondulado ficou em níveis próximos aos registrados em agosto, um mês que havia sido bastante positivo, com crescimento de 7% em relação a julho. Segundo o presidente da São Roberto, Roberto Nicolau Jeha, ocorreu "uma acomodação num patamar elevado". De janeiro a setembro, o crescimento ficou entre 1,5% e 2% ante o mesmo período do ano anterior. Jeha vê perspectivas positivas até o fim do ano, num cenário de expectativa de continuidade da queda dos juros. Ele acredita que a sua empresa e o setor de papelão ondulado devem fechar o ano com uma expansão de 3% em relação a 2004. "É um crescimento, mas é um ritmo medíocre", afirma ele. O setor de aço, por sua vez, não está nada otimista. Carlos Loureiro, diretor presidente da distribuidora Rio Negro , estima que em setembro as usinas despacharam cerca de 7% a menos de aço no mercado interno, na comparação com agosto. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o tombo deve ser bem maior: entre 20% e 22%, calcula Loureiro. Na avaliação do executivo, o crescimento industrial está muito concentrado em setores que utilizam pouco aço na fabricação de seus produtos, caso dos eletroeletrônicos, material para escritório e informática, além de farmacêuticos e perfumaria. "Essa realidade, aliada a um estoque ainda muito alto nas empresas desde o fim de 2004 tem impedido o avanço da entrega de aços planos (utilizados na produção de bens de capital e automóveis, principalmente)", afirma. Um exemplo da falta de dinamismo do mercado interno é a possibilidade de em setembro a exportação de aço plano bater recorde, ressalta Loureiro. Segundo ele, as empresas direcionam para o exterior o que não é consumido por aqui. Na Rio Negro, o estoque de aços está em torno de 3,2 meses, sendo que o ideal é de 2,5 meses. Segundo Loureiro, a expectativa é de que em dois meses esse estoque volte aos níveis normais. No entanto, a projeção de entrega de aço plano para o fim do ano é pessimista: a queda em relação a 2004 deve ficar entre 6% e 7%. Os analistas ficaram um pouco decepcionados com os números de setembro divulgados ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Na comparação com agosto, na série livre de influências sazonais, houve queda de 5,2%, nos cálculos do JP Morgan, de 4,8%, nos da Tendências, e de 2,2%, nos do Unibanco. Ainda que o menor número de dias úteis possa ter afetado um pouco o resultado, a dessazonalização deve, pelo menos em teoria, levar isso em conta, afirma o economista Júlio Callegari, do JP Morgan. Como o consumo de energia elétrica caiu 0,6% ante agosto, ele acredita que aumentaram as chances de a produção industrial em setembro ficar estável ou mostrar alguma queda em setembro. A economista Giovanna Rocca, do Unibanco, avalia que o recuo da produção de automóveis ocorreu devido a um ajuste de estoques, que estavam em níveis elevados e também em resposta a uma queda nas exportações em agosto e setembro. O setor de eletroeletrônicos, por sua vez, continua a registrar um desempenho bastante positivo. Foi o caso da Semp Toshiba. Segundo o diretor de vendas, Luís Freitas, as vendas cresceram em torno de 15% em relação ao mesmo mês do ano passado e também 15% ante agosto de 2005. Freitas diz que as encomendas para o Natal, que começaram no dia 12 do mês passado, foram grandes. Ele espera um crescimento de 20% no período entre setembro e novembro devido às encomendas para a festa do fim de ano. "As vedetes do Natal devem ser DVDs e televisões planas de 21 e 29 polegadas", afirma ele. O setor de eletroeletrônicos tem se beneficiado principalmente da expansão do crédito, já que o varejo continua a financiar a compra desses produtos por prazos longos, ainda que os juros estejam elevados. A Semp Toshiba espera fechar 2005 com crescimento de 15% em relação ao ano passado, um ritmo significativo, mas menor que os 40% registrados em 2004.