Título: Indústria têxtil pede salvaguarda hoje
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2005, Brasil, p. A6

Relações Externas Empresários planejam enxurrada de pedidos, mas bens sensíveis são 4% do comércio

O setor têxtil entrega hoje ao governo o primeiro pedido de adoção de salvaguardas contra a China. A indústria está solicitando proteção para cinco tipos de tecidos de seda. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), as importações chinesas desses produtos aumentaram 243% em volume de janeiro a agosto deste ano comparado a igual período de 2004. O pedido de abertura da investigação será protocolado hoje pela Abit junto ao Departamento de Defesa Comercial (Decom) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Segundo Fernando Pimentel, diretor-superintendente da entidade, será o primeiro de uma série. A ambição da Abit é entregar pedidos de salvaguardas para cerca de 75 produtos. "Vamos pegar itens de todos os elos da cadeia, mas o maior foco será confecção", diz o executivo. A indústria brasileira promete uma enxurrada de pedidos de salvaguarda contra a China nos próximos 30 dias, aproveitando a regulamentação do mecanismo de defesa comercial, publicada ontem no "Diário Oficial da União" conforme antecipou o Valor. Levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) aponta 50 produtos "críticos" no comércio com a China - ou seja, nesses produtos há evidências de dano ou ameaça de dano, que justificariam as salvaguardas. Os produtos estão divididos em 16 variados setores como máquinas e equipamentos, químico, têxtil, brinquedos, calçados ou material de transporte. Apesar da disputa política e do interesse empresarial que o assunto suscita, a Fiesp estima que os produtos sensíveis representam 4% do comércio bilateral entre Brasil e China, que somou mais de US$ 9 bilhões no ano passado, o que pode facilitar o entendimento entre os dois países. De acordo com Heitor Klein, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), a entidade deve entregar seu pedido de salvaguardas ao governo na próxima semana. A prioridade é conseguir proteção para calçados masculinos de couro ou sintéticos, que representam mais de 95% das importações chinesas. De janeiro a agosto, o Brasil comprou 9,4 milhões de pares de calçados dos chineses, contra 4,3 milhões de igual período de 2004. "O governo tem que se preparar para receber os pedidos. Vai ser uma avalanche", diz Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos (Abrinq). Segundo o executivo, a entidade praticamente finalizou os estudos para solicitar as salvaguardas. De janeiro de 2002 a julho de 2005, as importações de brinquedos chineses aumentaram 252%. Na comparação janeiro-julho de 2005 contra igual período de 2004, a alta é de 94%. Em 2002, os chineses representavam 22% do mercado brasileiro de brinquedos, hoje detém 48%. Batista explica que pretende solicitar ao governo uma limitação quantitativa das importações. Em 2004, foram adquiridas 16,5 mil toneladas de brinquedos chineses. A Abrinq quer baixar esse volume para 6 mil toneladas, o que deixaria a China com 20% do mercado brasileiro, outros países com 10% e os fabricantes nacionais com uma confortável fatia de 70%. O Brasil aplica há quase 10 anos uma salvaguarda para o setor de brinquedos. É uma sobretaxa, que vale para as importações provenientes de qualquer país do mundo e está em 9% atualmente. Para Batista, essa tarifa é insuficiente. Ela afirma que, se conseguir uma salvaguarda contra a China, abrirá mão da taxa extra que já possui. "A China é 90% do meu problema", diz. O setor de máquinas e equipamentos também está se mobilizando. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) pretende entregar as solicitações de salvaguardas durante esse mês. "Cerca de 20 segmentos estão sofrendo com as importações predatórias da China", diz Carlos Pastoriza, vice-presidente da entidade. De acordo com a Abimaq, os asiáticos, com destaque para a China, detém 80% do mercado brasileiro de correntes industriais, 75% dos descaroçadores de algodão, 40% do mercado de tornos e 60% dos equipamentos de ginástica nas academias do país. A indústria elétrica e eletrônica está próxima de finalizar o estudo que prova que as importações chinesas estão prejudicando fabricantes brasileiros de alto-falantes. Segundo Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), os alto-falantes chineses dominavam 42% do mercado em 2004 e devem atingir 62% esse ano. Mário Branco, gerente de relações internacionais da entidade, diz que duas fábricas brasileiras de alto-falantes fecharam recentemente, enquanto uma terceira transferiu a maior parte de sua produção para a China. A entidade reunirá seus associados na próxima semana para atualizar as estatísticas e pretende protocolar o pedido de salvaguardas junto ao Decom em 30 dias. A Abinee também estuda solicitar salvaguardas para outros produtos como impressoras e moto compressores, mas os estudos estão menos adiantados. A participação chinesa no mercado brasileiro de impressoras saltou de 25% de janeiro a maio de 2004 para 52% de janeiro a maio de 2005. No caso de moto compressores, o crescimento foi de 2% para 18% no mesmo período. Os empresários não acreditam que a China deva retaliar o Brasil, por conta da regulamentação das salvaguardas. "É um direito legal. A China não retaliou nenhum país que regulamentou", diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp. "Trata-se de uma parcela ínfima do comércio", avalia Renato Amorim, secretário-executivo do Conselho Brasil - China. Os produtores de soja, no entanto, ainda se lembram do bloqueio chinês a soja brasileira no ano passado.