Título: Deputado do PFL tenta complicar situação de Dirceu
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2005, Política, p. A8

Na tentativa de complicar o julgamento do deputado José Dirceu (PT-SP) no Conselho de Ética da Câmara por quebra de decoro, o PFL apresentou ontem documentos que comprovariam irregularidades num suposto empréstimo feito pelo ex-ministro com recursos do fundo partidário do PT em 2002. Em sessão secreta na CPI Mista dos Correios, o deputado pefelista Onyx Lorenzoni (RS) afirmou que Dirceu cometeu os crimes de responsabilidade e de falsidade ideológica por haver infringido a Lei dos Partidos e por não ter declarado a operação de R$ 14.322,51 em seu Imposto de Renda. Lorenzoni disse, após a sessão, que o IR de José Dirceu de 2003 "não registra o recebimento de dinheiro originário do PT". Segundo ele, Dirceu não declarou a operação em 2004 ou 2005. "Além disso, é uma operação proibida por lei". Lorenzoni pediu ao relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que os documentos sejam citados no relatório final da comissão e enviados ao relator do processo contra Dirceu, deputado Júlio Delgado (PSB-MG). O PT rebateu as acusações com uma nota em que sustenta que o valor pago por Dirceu ao PT não é um empréstimo, mas uma "devolução residual de adiantamentos" em função de despesas com viagens e atividades partidárias entre 1995 e 2001. Na época, Dirceu ainda era presidente do PT. O ex-ministro também publicou nota em que acusa a oposição de tentar "criar mais um fato político" para "demonizar" sua imagem. "A oposição está garimpando um pretexto para justificar uma cassação eminentemente política", disse. E diz que, em 150 dias, as investigações das CPIs não produziram uma evidência de quebra de decoro. Dirceu afirma ter feito reembolsos ao PT por adiantamentos de despesas. Entre elas, R$ 13.676,37 pela estadia de sua esposa, Maria Rita, durante viagem de dirigentes do PT à China em junho de 2001 e outros R$ 500 pela compra de um celular. Segundo a nota, o dinheiro teria sido devolvido pelo ex-ministro aos cofres do PT em seis parcelas, entre dezembro de 2003 e maio de 2004. "A passagem de minha esposa não foi paga pelo PT. Foi incluída na prestação de contas como despesa pessoal, em meu nome, e o partido foi reembolsado", diz. "O resto, é delírio". Os documentos apresentados por Lorenzoni não tiveram grande impacto na oposição. "Acho que isso não deve ser tão relevante assim para o processo contra Dirceu", disse Gustavo Fruet (PSDB-PR). "É importante, Dirceu tem que explicar. Mas não é tão forte assim", ponderou o tucano Eduardo Paes (RJ). Na avaliação de partidários de Dirceu, a oposição tenta fazer vingar a tese do crime de responsabilidade para, na verdade, atingir o presidente Lula, que também teve despesas pagas por recursos do fundo partidário do PT. . (MZ)