Título: Relator deve indiciar pelo menos cinco no caso Gtech
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2005, Política, p. A8

O relator da CPI dos Bingos, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), deverá sugerir o indiciamento de pelo menos cinco pessoas envolvidas no escândalo da renovação do contrato da multinacional americana Gtech com a Caixa Econômica Federal. Ele pretende entregar, até o fim de outubro, um relatório parcial dos trabalhos da comissão, concentrando-se apenas no caso Gtech. Indícios recolhidos sobre a "máfia do lixo" no interior de São Paulo e o suposto esquema de corrupção em Santo André não farão parte do documento preliminar, antecipa o senador. Garibaldi pretende propor o indiciamento dos advogados Rogério Buratti e Enrico Gianelli, do ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz e do ex-diretor da Gtech Marcelo Rovai. O quinto deverá ser o dono da MM Consultoria, Walter Santos Neto, suspeito de ter lavado dinheiro para pagamento de propina da Gtech. "Não é uma conclusão final", afirma o relator, abrindo espaço à possibilidade de sugerir ainda o indiciamento de ex-diretores da Caixa, que em abril de 2003 renovou por R$ 650 milhões um contrato com a multinacional para a operação da rede lotérica no país. Garibaldi se diz "convencido" de que a Gtech subornou pelo menos um grupo de funcionários do governo para melhorar as condições do negócio. Para o senador, a empresa se valeu de um contrato de fachada com o advogado Walter Santos para fazer uma espécie de reserva de caixa destinada ao pagamento de propina. Segundo disse Rovai na acareação de quarta-feira, as negociações para a contratação de Walter começaram em setembro de 2002 e o primeiro depósito da Gtech à MM ocorreu em 17 de outubro daquele ano, antes do 2º turno das eleições presidenciais. Para a bancada petista na CPI, isso comprova que ele não serviu de correia de transmissão para entregar propina. Garibaldi, entretanto, tem uma visão diferente. A Gtech depositou R$ 5 milhões na conta da MM já de olho na liberação de recursos a quem pudesse favorecê-la, acredita o senador. Walter retirou mais de R$ 6 milhões na boca do caixa, em uma agência de Belo Horizonte, onde sua empresa está sediada, usando carro-forte para o transporte do dinheiro. A MM foi recomendada à Gtech pelo advogado Enrico Gianelli, que por sua vez depositou R$ 205 mil nas contas de Walter, alegando ter sido um empréstimo entre amigos. O escritório foi contratado para obter uma liminar contra a Caixa, alega a Gtech, mas a CPI duvida que a multinacional tenha aceitado gastar R$ 5 milhões com um advogado desconhecido e acusado de sonegação fiscal. Ontem, em depoimento à comissão, o professor universitário Bruno Daniel Filho acusou o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, de ter transportado R$ 1,2 milhão proveniente de um esquema de corrupção em Santo André para a sede do PT nacional, em São Paulo, onde teria entregado os recursos ao então presidente da legenda, José Dirceu. Ele diz ter ouvido esse relato do próprio Carvalho, poucos dias após o assassinato do prefeito Celso Daniel. Bruno confirmou, com mais detalhes, as declarações que haviam sido dadas pelo irmão mais velho deles, João Francisco. Carvalho já desmentiu a sua suposta confissão, em depoimento fechado à CPI. Uma acareação entre ele e os dois irmãos do prefeito assassinado foi marcada para o dia 26. "Ele contou coisas a nós que desmente em público", disse Bruno, um ex-militante petista. Calmo e demonstrando segurança nas respostas, Bruno evitou defender o irmão Celso Daniel. "Foi montado um esquema de arrecadação de recursos e ele sabia", contou, em referência à extorsão a empresários de ônibus. "Ele tinha total controle do que acontecia na prefeitura e suponho que encarava isso como um mal necessário", acrescentou. A oposição pediu a demissão do assessor de Lula. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) admitiu que, "mais que secretário pessoal, ele é um conselheiro do presidente".