Título: Arcelor compra ações dos fundos
Autor: Vera Saavedra Durão, Patrícia Nakamura e Ivo Ribei
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2005, Empresas &, p. B1

Siderurgia Grupo paga R$ 275 milhões pelas participações de Previ e Petros na Acesita

Ontem, no final do dia, os fundos de pensão Previ e Petros chegaram a um acordo final de venda de sua participação de 25% na Acesita com a gigante siderúrgica Arcelor. O grupo europeu, que tinha feito uma oferta de compra de R$ 42,28 por ação, cedeu e decidiu pagar o mesmo preço de R$ 45,00 do gestor de investimentos Tarpon pelo controle empresa de aço inoxidável. O valor do negócio foi de R$ 274,5 milhões a serem pagos em dinheiro às fundações. Uma fonte envolvida nas negociações disse ao Valor que o acordo "foi bom para os dois lados". A saída dos fundos da Acesita foi cercada de cautela face ao assédio da Tarpon. No acordo selado, figura uma cláusula especial que garante à Previ e Petros, caso a Arcelor mantenha a negociação e feche a venda da empresa à gestora de investimentos, receberem o valor adicional. Segundo o interlocutor, da forma como os fundos vão sair da Acesita, eles se resguardam de perdas futuras, caso a Tarpon quiser continuar na negociação, já que sua proposta foi para o controle, e continuar subindo o preço. Analistas consideram que a Acesita é estratégica para a Arcelor, mas a fonte avalia que nos planos do grupo no Brasil, envolvendo aço longo e plano, aço inox torna-se um negócio periférico. "Estamos frustrados", desabafou José Carlos dos Reis Magalhães, diretor executivo da Tarpon. Ele considerou estranho o fechamento do negócio exatamente quando as negociações do fundo, aliado a um grupo de investidores, estava apenas no início. "Sequer fomos chamados para conversar sobre nossa proposta", afirmou. Segundo ele, havia disposição para melhorar muito mais ainda a proposta de R$ 45,00 por ação. A Tarpon Investimentos estava disposta a encarar um verdadeiro leilão com a Arcelor pelo bloco de controle da Acesita. Um consórcio de investidores foi organizado pelo fundo paulista com fôlego suficiente para fazer uma proposta "muito próxima" dos R$ 58,96, da avaliação do Credit Suisse, contratado pelos fundos de pensão. Dessa forma, o fundo poderia desembolsar até R$ 1,1 bilhão, caso conseguisse fechar negócio com o bloco de controle, que detém 78% das ações ordinárias. Na última quarta-feira, a Tarpon ofereceu R$ 45,00 por papel da Acesita aos controladores, que teriam prazo de 15 dias para responder. Assim, o custo da operação seria de R$ 876 milhões. "Julgamos que o preço dessas ações está subvalorizado e vislumbramos uma ótima oportunidade de investimento", afirmou ao Valor Ricardo Semler, acionista majoritário do grupo Semco e conselheiro do Tarpon. O fundo de investimento possui uma participação minoritária na Acesita, com cerca de 10% das ações ordinárias. Há pelo menos um ano a Tarpon vinha analisando fazer uma oferta por esses papéis, o mesmo tempo que levou para organizar um seleto grupo de investidores, todos de capital nacional. Nos últimos quatro meses o fundo se dedicou a desenhar a oferta. O grupo arregimentado pela Tarpon era formado por pelo menos uma dezena de membros, entre pessoas físicas, grupos industriais e fundos de investimento, de modo a reduzir os possíveis riscos do negócio. A intenção do consórcio era manter o ativo. Semler não quis revelar o nome dos participantes e nem confirmar se dentro do grupo há um sócio estratégico ou ainda um controlador ligado aos setores de mineração e de siderurgia. O executivo admitiu porém que "algumas" empresas foram convidadas a participar do grupo, tanto brasileiras como estrangeiras. Especulações de mercado dão conta que grupos siderúrgicos nacionais poderiam estar por trás de algum dos participantes do consórcio. Ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) as ações ordinárias da Acesita fecharam negociadas a R$ 36,58, uma queda de 1,18% em comparação ao dia anterior. Enquanto o Ibovespa encerrou o dia com queda de 3,10%. Apesar de ser considerado um belíssimo ativo pelo consórcio de investidores, a aquisição da Acesita não era o único negócio que a Tarpon tem em vista. Estão em análise pelo menos outras cinco operações semelhantes, que podem incluir parceiros internacionais. Para Magalhães, da Tarpon, o que fica estranho é o Morgan Stanley ter avaliado os papéis da Acesita em R$ 25,60 e de uma hora para a outra a Arcelor praticamente dobrar sua oferta.