Título: Acordo com credores pode levar Parmalat ao lucro em 2009
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2005, Empresas &, p. B3

Alimentos Segundo estudo entregue à Justiça, só em 2017 a companhia deverá ter receita similar a período pré-crise

Depois de mais de sete anos consecutivos no vermelho, a Parmalat prevê voltar a lucrar no Brasil a partir de 2009, com R$ 5,1 milhões no azul. E até 2017 - data final do plano de recuperação da empresa - o faturamento da fabricante de lácteos alcançaria R$ 1,48 bilhão, valor semelhante ao registrado em 2003, ano anterior à crise. Esses dados constam do laudo técnico entregue pela Parmalat à Justiça para comprovar a viabilidade de recuperação econômica da empresa. Os números foram elaborados pela própria Parmalat e depois validados pela auditoria MS Cardim. Com bases nesses dados é que os credores da Parmalat aprovarão ou não até dezembro a proposta de pagamento da empresa. O plano de recuperação da Parmalat prevê a mudança de controle. Um investidor - que pode ser até o grupo dos credores - injetaria na empresa R$ 20 milhões e se comprometeria a subscrever outros R$ 40 milhões em debêntures. A troca de acionista controlador da Parmalat poderia também se dar em um leilão em bolsa.

Os fornecedores da empresa receberiam seus recursos em até quatro anos, enquanto os credores financeiros ganhariam debêntures com vencimento em 12 anos. Nos dados entregues à Justiça, a Parmalat prevê um crescimento médio de todas as suas áreas de negócios - leite, enlatados, biscoitos e bebidas - de 3% a 3,6% partir de 2007. De acordo com Othniel Rodrigues Lopes, diretor industrial da Parmalat, algumas áreas já estão operando em um nível superior a 2003, ano que antecedeu a crise. Um exemplo é a área de biscoitos, que fechará 2005 com 2,5 mil toneladas de produção, volume 50% mais do que há dois anos. Em vegetais, que estão sob a marca Etti, o processamento deste ano deve ser bastante semelhante ao de 2003. Em leite, segmento carro-chefe das vendas da Parmalat, o volume ainda é cerca de 30% inferior ao de 2003. São captados 50 milhões de litros por mês hoje. "Não retomamos ainda o mesmo nível de distribuição anterior à crise. Mas não queremos voltar às gôndolas perdendo rentabilidade", diz Lopes. O maior esforço da empresa neste momento está em aumentar a lucratividade do segmento de bebidas. Para isso, a Parmalat tornará a embalagem da linha Santhal mais simples, sem o atual formato de prisma. Desde que a empresa começou a se recuperar no Brasil, sua energia se concentrou em reduzir o número de itens vendidos para ganhar produtividade. Segundo o parecer elaborado pela Parmalat, neste ano a companhia deve ter uma receita líquida de R$ 910,2 milhões ante R$ 635,2 milhões de 2004, ano em que as fábricas beiraram a paralisação. A margem bruta da empresa subiu de 13,5% para 22,5%. Mas o prejuízo será bastante superior: R$ 652,6 milhões na comparação com R$ 228,2 milhões por causa de provisão de créditos com empresas ligadas e à assunção de dívidas. No último ano do plano de recuperação, 2017, a Parmalat prevê voltar um prejuízo R$ 129,3 milhões. Isso porque neste ano a empresa desembolsaria o maior pagamento para seus debenturistas. Pelo plano entregue à Justiça brasileira, o crédito dos bancos sofrerá um desconto dado pela remuneração das debêntures, que foi fixada em IPCA mais 2% ao ano. Na Itália, as ações que os bancos receberam da empresa mais que triplicaram de valor.