Título: Palocci e Furlan divergem sobre câmbio
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2005, Finanças, p. C2

Manifestações dos ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) revelam divergência sobre a política cambial. Furlan alerta que a manutenção da moeda brasileira valorizada diante do dólar vai prejudicar as exportações a partir do ano que vem. Palocci vê, apesar do câmbio, uma boa evolução das exportações. Ontem, a cotação do dólar fechou em R$ 2,29. "Há um ano, a imprensa não deve ter registrado previsão de um saldo e de um nível de exportação que nós temos hoje", afirmou o ministro da Fazenda, em entrevista em Brasília. Furlan comentou também, ao anunciar medidas de proteção à indústria, que, "na fotografia de hoje", Palocci tem razão quando diz que o câmbio não prejudica as exportações. Mas alertou que seu ministério tem a obrigação de olhar o futuro. "Estamos colhendo hoje o que foi plantado em 2003 e 2004. No ano que vem e nos subseqüentes, vamos colher o que foi plantado agora. O ministro da Fazenda tem toda a razão no que ele diz e nós, como temos a bandeira do desenvolvimento, da indústria e do comércio exterior, temos a obrigação de alertar que o conforto de hoje não nos garante o sucesso de amanhã", advertiu. O ministro do Desenvolvimento afirma que Banco Central e Tesouro fazem uma política autônoma de constituição de reservas e compra de moedas. Mas afirma, por outro lado, que há o reconhecimento geral de que setores da economia estão perdendo o ímpeto exportador, porque não têm mais rentabilidade. "Temos notícia que o setor de calçados reduz suas exportações de forma substantiva. Nos casos da linha branca e indústria automotiva, onde há contratos de maior prazo, estão revendo seus projetos para o ano que vem", informou Furlan. Segundo ele a preocupação já não é mais com 2005. O problema é fazer com que 2006 e 2007 sigam com o crescimento das exportações. "Não podemos nos sentir cômodos com o câmbio, que ajuda a inflação e o atingimento de metas macroeconômicas, mas que adiante pode prejudicar o crescimento da economia brasileira e pode inclusive, eliminar a presença de empresas brasileiras no mercado internacional", disse. Palocci negou que as recentes ações do BC e do Tesouro no mercado cambial tenham como objetivo estabelecer um piso na cotação do dólar. "Não devemos interferir e tentar levar o câmbio a um valor que possa agradar um ou outro setor. Quando o câmbio se desloca para apreciar a moeda de um país, isso é resultado de uma melhora nos fundamentos do país, na renda das famílias. Não podemos lutar contra a renda das famílias. Temos de favorecer essa evolução", ponderou.