Título: G-20 defende cortes de até 80% nos subsídios
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2005, Brasil, p. A3

Para haver corte real de subsídios agrícolas, os EUA devem reduzir o total de seus gastos agrícolas em 75% e a União Européia em 80%. Esse cálculo de técnicos do G-20 deve nortear a reação de ministros do grupo, hoje em entrevista na Organização Mundial do Comércio (OMC). Para negociadores do grupo, o foco agora deve ser o corte do total do apoio doméstico, e não apenas da caixa amarela (os subsídios que mais distorcem o comércio). "Abaixo de 75% não dá", dizem, enquanto procuram descobrir as últimas cifras na selva de programas. A apresentação de propostas pelos EUA e UE ontem colocou pressão para o G-20 também colocar números na mesa. Em subsídios domésticos e exportação, a posição é fácil. A dificuldade pode vir na oferta para cortar tarifas, diante da diversidade do grupo. De um lado estão Brasil e Argentina, defendendo corte de 75% nas alíquotas mais elevadas nos países ricos. Por essa proposta , o Brasil só cortaria 5 de 900 tarifas agrícolas de importação. Já a Índia tem média tarifaria de 114% e situação totalmente diferente. Por isso, o país prefere fórmula com reduções entre 25% (para as mais baixas) e 40%. Ontem, o ministro Kamal Nath admitiu corte de até 50% nas tarifas mais altas, que na Índia são de 300%. Elas cairiam para 150%, ficando no teto defendido pelo grupo. A maior preocupação da Índia é o complexo de soja, com alíquota de importação de 45%. O governo não quer mexer nessa tarifa, para proteger a produção local e evitar que o mercado seja inundado por exportações do Brasil e Argentina, dois membros do G-20, além dos Estados Unidos. A China também é prudente na abertura agrícola, mas qualquer corte já significa ganho para o exportador brasileiro, porque Pequim aplica o que já é consolidado na OMC, ou seja, não tem "água" em suas tarifas. Ao mesmo tempo, porém, a China quer proteger o que pode mais interessar aos brasileiros: soja, açúcar, milho, algodão, lácteos. O México, outro membro do grupo, tem dificuldades em abrir seu mercado para entrada de frango e açúcar. A Venezuela tem muita cota (restrição quantitativa a importação) e não sabe o que fazer. A Indonésia também tem tendências mais protecionistas e busca salvaguarda para barrar aumento súbito de importações. "'O Brasil e a Índia conseguiram se entender, mas é legitimo indagar se continua assim, que é o que esperamos", afirma um embaixador de país-membro. O embaixador brasileiro junto à OMC, Clodoaldo Hugueney, refuta divergências. "Estamos trabalhando muito bem com a Índia", assegura. O que ninguém sabe é quando o G-20 vai colocar sua oferta tarifaria na mesa. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que deveria participar do encontro de Zurique e do G-20, adiou sua vinda no ultimo momento. (AM)