Título: País negociará com o Brasil, diz sociólogo chinês
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2005, Brasil, p. A4

A China não deverá recorrer à Organização Mundial de Comércio (OMC) contra o Brasil pela regulamentação de salvaguardas contra produtos chineses, com destaque para os têxteis, segundo avaliação de Gao Xian, sociólogo da Academia Chinesa de Ciências Sociais. "Se houver algum problema, acredito que a China negociará direto com o Brasil porque os países mantêm boas relações e podem resolver as dificuldades independente da OMC", avaliou. Para o sociólogo, a competição internacional é um dos grandes problemas que a China precisa enfrentar para desenvolver uma economia de mercado. Ele veio ao Brasil a convite dos organizadores do seminário "Alternativas à Globalização: Potências emergentes e os novos caminhos da modernidade". Para ele, seu país vem lidando com complicadas condições internacionais. Os confrontos têm surgido especialmente na exportação de têxteis. A China, diz Xian, vem sendo pressionada por muitos países que têm tentado restringir suas exportações de tecidos, levando a OMC a tomar posição a favor dos chineses, já que as restrições não são legais e acabam se tornando um grande problema para países como Estados Unidos e Europa, dentre outros. "Os que desenham as regras (da OMC) , quando as regras começam a atuar contra eles, querem sair fora delas", argumentou, referindo-se aos países desenvolvidos. De acordo com o sociólogo, tal atitude "é uma contradição e a China tem de trabalhar dentro dela". No caso dos têxteis, afirmou, a China não está tentando violar nenhuma regra, nenhuma lei. E acrescentou: "Temos feito até concessões, como no caso do acordo de têxteis firmado com a Europa, buscando compreender as dificuldades dos pequenos proprietários europeus. Nossa postura é de acatar as regras do jogo da OMC . Mas, no entendimento dos chineses, a China deve participar também da definição das leis que regem o mundo". Gao Xian lembrou que todos esses enfrentamentos ocorrem num momento em que a China está vivendo processo de mudança de uma economia muito centralizada e mandatória para uma economia que reconhece a importância da demanda e do mercado, mas sob a direção do Estado. "O ajuste para a economia de mercado não é anarquista, ele é construída sob o manejo do governo e leva tempo", assinalou. E ressaltou que as mudanças que estão em curso não são simples, sejam no âmbito interno, sejam no externo. "Elas buscam fazer com que o governo jogue um papel mais seletivo no controle da economia", enfatizou. O controle estatal passa a ser mais dirigido para setores estratégicos, relacionados com as necessidades da maioria da população, como energia, água, grandes projetos de infra-estrutura e setor de serviços sociais básicos. "O governo tem de acompanhar mais de perto estes recursos, garantindo que eles não se convertam numa fonte de poder de um grupo privado". Segundo informou Gao Xian, os setores que gozam hoje de uma abertura maior na China dizem respeito sobretudo às indústrias, incluindo as indústrias pesadas, "que podem ser e devem ser mais livres, sobretudo o que diz respeito a gestão dos seus próprios recursos, questão do mercado, questão dos preços", tudo isso com uma separação crescente entre o governo e as empresas.