Título: Lula refuta medidas populistas para público favorável à sua reeleição
Autor: César Felício e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2005, Política, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou ontem que não adotará medidas populistas tendo como horizonte as eleições presidenciais de 2006. "Não tomarei nenhuma atitude e não farei nenhum gesto que possa agradar alguns momentaneamente e prejudicar milhões futuramente", disse Lula ao participar de evento da Transpetro, subsidiária da Petrobras, em Niterói (RJ). O ato, que reuniu metalúrgicos e sindicalistas, teve clima de campanha eleitoral. Ao discursar, Lula preocupou-se em mostrar as conquistas de seu governo na área econômica. Disse que o país "vive um de seus melhores momentos" e que "está em um ciclo virtuoso". Destacou o crescimento da economia, das exportações e das importações de bens de capital, do emprego, da poupança interna e da massa salarial. Entre os indicadores econômicos, só o custo de vida e a inflação estão caindo, comparou Lula. Foi neste momento do discurso em que ele negou que possa usar o cargo para tirar vantagens na eleição de 2006. "Agora é não permitir que o processo eleitoral do ano que vem venha a exigir que o governante tome medidas irresponsáveis, populistas, tentando fazer apenas alguma coisa para a torcida sem levar em conta o momento que o Brasil está vivendo", salientou. Ele classificou o momento atual pelo qual passa o país como "crucial", e emendou: "Se agirmos corretamente, o Brasil poderá ter conquistado definitivamente um novo ciclo de desenvolvimento sustentado e duradouro que pode demorar de 10 a 15 anos." Insistiu que, se depender dele, o Brasil não jogará fora a oportunidade que tem no momento. Ao falar do esforço de seu governo para reerguer a indústria naval, que há dez anos não constrói navios de grande porte no país, Lula reclamou das pessoas que não acreditam que determinados projetos podem dar certo. "A coisa não é fácil. Está cheio de gente torcendo que a coisa dê errado", criticou. Ele comparou o futebol com a política, e insistiu: "Vocês não sabem o que é urucubaca. É gente torcendo para que as coisas não dêem certo." O presidente também comparou os números de seu governo com os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na criação de empregos. "Nestes 33 meses foram quase 300 mil empregos só na área da metalurgia. Estamos criando a cada mês, em média, 105 mil empregos contra 8 mil empregos por mês no governo anterior." Ele avaliou que o dado é relevante porque um posto criado na indústria representa, de forma indireta, a criação de 1,2 vaga no mercado de trabalho. Lula lembrou que, como dirigente sindical, na década de 70, viveu um período que coincidiu com a maior geração de emprego e com o pior momento político. O presidente concluiu sua fala citando versos de antigos navegadores, mencionados pelo poeta português Fernando Pessoa: "O poema dizia navegar é preciso, viver não é preciso. Eu quero mudar a letra e dizer navegar é preciso e viver melhor é muito mais preciso."