Título: Estudo tem aplicação ampla, de negócios à biologia
Autor: Rodrigo Uchôa e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2005, Internacional, p. A9

Schelling e Aumann nunca formaram um dupla em cooperação direta. Aumann, que disse querer se aposentar (ele estaria orientando seu último aluno de pós-graduação), desenvolve formulações matemáticas, enquanto Schelling trata seus temas mais intuitivamente, sem esmiuçar por demasiado números e equações. Talvez por usar menos a matemática, Schelling tenha se tornado mais conhecido no Brasil. Seus livros falam de estratégia militar, controle de armas, política ambiental, mudanças climáticas, crime organizado, segregação racial etc. Aumann, por sua vez, fez uma escola de pensadores, diz Aloísio de Araújo, vice-diretor da Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas (RJ). Ao falar em jogos, a primeira reação poderia ser relacionar algo lúdico. Mas jogo é toda a situação em que existem duas ou mais entidades em suas posições e ações interferem nos resultados dos outros. Ou seja, é a ciência do conflito, em que o jogador é todo agente que participa e tem objetivos em um jogo - tanto faz ser um país, um grupo ou uma pessoa. Os dois estudiosos vêem, cada um a seu modo, como funciona a mecânica de escolher as estratégias para o jogo, tentando prever os ganhos e as perdas potenciais. Chegam a conclusões que se aplicam tanto na estratégica de precificação de produto quanto no embate militar ou comercial de países. Uma delas é de quanto mais o jogo é jogado, maiores as possibilidades de cooperação. Quanto mais você conhece seu adversário e prevê suas reações, maior a possibilidade de não se confrontarem no chamado jogo de soma zero, em que um ganha e outro perde. No jogo positivo, o embate destruidor não ocorre porque a retaliação é crível. Se sabemos que o opositor retaliará, agimos para evitar a retaliação. Grande parte do problema reside no fato de prever o que os outros participantes irão fazer. O professor de economia Alexandre Sartoris, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), comenta um exemplo da teoria dos jogos no mundo empresarial. Ele conta que a Microsoft decidiu lançar a versão 3.0 do Windows ainda inacabada, para evitar a concorrência da IBM. A empresa de Bill Gates sabia que a concorrente trabalhava no projeto OS2, plataforma semelhante ao Windows, e que correria o risco de perder mercado caso eles lançassem o programa antes. A Microsoft decidiu então colocar no mercado a versão 3.0, mesmo inacabada e com muitos defeitos. Conquistou o mercado e depois lançou a versão aprimorada 3.1. A companhia recompensou os compradores da 3.0 e deu a nova versão gratuita. A decisão valeu a pena. O programa da IBM, que era considerado até superior ao Windows, não decolou e morreu em pouco tempo. "A teoria dos jogos lida com situações de conflito, quando se sabe o que o seu concorrente vai fazer e é preciso saber qual a melhor estratégia para vencê-lo", disse Sartoris. Nesse caso, não houve cooperação, mas sim enfrentamento. Acadêmicos ouvidos pelo Valor disseram que a premiação de Aumann e Schelling corrige uma injustiça histórica, já que os dois não foram premiados em 1994, quando John Harsanyi, John Nash e Reinhard Selten levaram o Nobel pela teoria dos jogos. Nash foi tema do filme "Uma Mente Brilhante", interpretado por Russell Crowe.