Título: Petrobras destina 1% do faturamento para desenvolver tecnologia e novos produtos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2005, Empresas &, p. B

Única empresa brasileira listada no ranking da Booz Allen, a Petrobras destina anualmente 1% do faturamento líquido do ano anterior para pesquisa e desenvolvimento de produtos e tecnologias. Em 2004, foram R$ 654,5 milhões em investimentos, segundo informa a estatal. Já o levantamento da consultoria coloca o valor em US$ 238 milhões, ou cerca de R$ 547 milhões, uma diferença que ocorre em função da variação cambial do período. Esses recursos vão para o Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), que fica na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. Lá 1.500 pessoas - das quais cerca de 60% têm nível superior- se dedicam ao desenvolvimento de tecnologias de exploração e produção de petróleo, refino, transporte, distribuição e criação de energias alternativas. Para Carlos Soligo Camerini, gerente-geral de gestão tecnológica do Cenpes, o investimento da Petrobras em pesquisa e desenvolvimento sempre traz retorno. "De acordo com o último estudo que fizemos, chegamos à conclusão de que para US$ 1 investido, temos um retorno de US$ 8." Um dos exemplos dados pelo engenheiro é a tecnologia para exploração de petróleo em águas profundas. "Há dez anos, havia um impasse tecnológico que não nos permitia afundar mais do que 300 metros", explica Camerini. A saída foi enviar o melhor técnico da empresa para estudar no exterior o sistema de ancoragem das plataformas. O investimento foi de cerca de US$ 10 milhões e o resultado hoje é que a maior parte da produção da Petrobras é feita em águas profundas. "Isso deve permitir que no ano que vem o Brasil se torne auto-suficiente em petróleo. Caso não tivéssemos feito esse investimento, hoje ou não produziríamos em águas profundas ou dependeríamos da tecnologia de outras empresas, o que tornaria nosso produto mais caro", avalia o gerente-geral. Hoje, a companhia já superou esse desafio e a nova meta é ultrapassar os três mil metros de profundidade. Para Camerini, os investimentos da Petrobras em pesquisa e desenvolvimento também se traduzem em aumento de vendas. Ele cita o exemplo de uma gasolina especial criada para carros de Fórmula 1. Em 1998, a Petrobras começou a desenvolver um combustível para a BMW Williams. "Inicialmente, patrocinar a Fórmula 1 era uma questão de imagem, mas depois se transformou em vendas maiores. Na Argentina, esse combustível fez um sucesso fenomenal", explica. No ano passado, a Petrobras lançou a gasolina Podium, com base nas pesquisas feitas para os carros de Fórmula 1. Com ela, a participação da Petrobras no segmento de combustíveis especiais dobrou na Argentina. Para Camerini, no entanto, o investimento em pesquisa e desenvolvimento precisa estar muito alinhado com o planejamento estratégico da companhia. "Não é gerar tecnologia pela tecnologia. Atuamos nas áreas onde há empecilhos tecnológicos, que não permitem o avanço da companhia. A função do Cenpes é dar suporte para os projetos empresariais", explica Camerini. Para evitar o desperdício de dinheiro, todo ano os projetos passam por um pente-fino dos comitês operacionais da companhia. "Aqueles que não atingem os resultados mínimos estipulados são abortados, mesmo que estejam no meio." Na avaliação do gerente-geral do Cenpes é essa combinação de inovações tecnológicas com o rigor na avaliação dos projetos que garante o retorno do investimento feito em pesquisa e desenvolvimento.