Título: Líderes em P&D, companhias de TI investem pouco no país
Autor: Ricardo Cesar, João Luiz Rosa e Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2005, Empresas &, p. B2

Inovação Participação ainda é modesta na formulação dos produtos

Tanto em valores absolutos como em porcentagem do faturamento destinado à pesquisa e desenvolvimento, as empresas de tecnologia da informação lideram o ranking da Booz Allen Hamilton de gastos em P&D. Juntas, as categorias "computação e eletrônica", "tecnologia" e "software e internet" respondem por investimentos de US$ 146,5 bilhões, ou 38% do total movimentado para este fim entre as mil corporações que compõem a lista. O Brasil, entretanto, não tem se beneficiado muito com isso. Os esforços de P&D das fornecedoras de tecnologia que encabeçam a lista são modestos no mercado nacional. A Microsoft, primeira colocada no levantamento, não desenvolve nenhum de seus produtos no país. Isso não significa que a companhia feche os olhos para o potencial de novas tecnologias geradas no Brasil. Ao invés de destinar parte de sua atividade de pesquisa para a equipe da subsidiária nacional, a maior fornecedora de software do mundo prefere varrer universidades e centros de pesquisa em busca de talentos. Quando encontra, patrocina e apóia seus trabalhos. Marcos Pinedo, diretor de estratégia da Microsoft, afirma que a subsidiária nacional está investindo cerca de US$ 20 milhões com recursos próprios em centros de tecnologia voltados a pesquisa e desenvolvimento espalhados pelo Brasil. Em três anos, foram abertas 17 unidades. Além disso, a matriz da empresa investe em laboratórios dentro de universidades - USP e Unicamp já receberam recursos - e financia pesquisadores. Quem passa por uma situação parecida é a americana Sun Microsystems, a 49ª do levantamento. A companhia não desenvolve produtos no país, mas investe na expansão de uma comunidade local de desenvolvedores que cria sistemas com a Java, a linguagem de programação da fornecedora. Já a HP, que está na 24ª posição da lista, com investimentos de US$ 3,5 bilhões em pesquisa e desenvolvimento em 2004, gastou, somando-se os últimos três anos, R$ 175 milhões para esta finalidade no Brasil. Embora receba apenas uma fração do orçamento global da área, a subsidiária nacional contribui para o desenvolvimento de tecnologias que integram os produtos da empresa vendidos em todo o mundo, como o e-DiagTools, um conjunto de softwares que ajudam a garantir o bom funcionamento dos computadores da fornecedora. Com um laboratório em Porto Alegre (RS), a subsidiária da HP possui cerca de 200 funcionários diretos focados em pesquisa e desenvolvimento. Considerando os colaboradores e parceiros externos, o número dobra. Em 156ª lugar no ranking da Booz Allen, com um investimento global de US$ 463 milhões em P&D no ano passado, a Dell mantém no Brasil - também em Porto Alegre - um de seus três centros internacionais de desenvolvimento de software. Os demais estão na Rússia e na Índia. O centro é orientado à criação de softwares que são usados internamente pela Dell - a maior fabricante de computadores do mundo -, em âmbito global. A participação brasileira tem sido ativa em dois tipos de programa, ambos centrais para a companhia, diz Raymundo Peixoto, diretor geral da Dell no país: os programas usados na loja on-line da empresa e os orientados para o gerenciamento de recursos humanos. Há, no entanto, uma série de restrições que limita o papel do Brasil como um pólo internacional de pesquisa. Um deles, de caráter estrutural, é a falta de profissionais especializados em comparação com países como a Índia. "Não temos uma mão-de-obra tão abundante como a dos indianos. Quando a fluência em inglês é um requisito, a oferta cai mais ainda", observa Peixoto. Os outros dois pontos são a legislação trabalhista, considerada muito rígida, e a excessiva carga tributária sobre as exportações. O baixo investimento em pesquisa no Brasil, entretanto, não é privilégio das fornecedoras de tecnologia. Dos US$ 7,6 bilhões gastos com esta finalidade pela farmacêutica Pfizer em 2004, apenas US$ 10 milhões foram investidos no país. Mesmo assim, entre os vizinhos latino-americanos, os brasileiros são os que mais recebem recursos. "Em relação ao resto da América Latina, somos o país que mais tem centros médicos qualificados. E a qualidade da mão-de-obra no Brasil é melhor", afirma João Fittipaldi, diretor médico da Pfizer. O investimento da indústria farmacêutica no país se destina a testes de medicamentos em seres humanos doentes. A criação dos remédios fica sob a responsabilidade de centros nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França e no Japão. "São poucos os países que têm a tecnologia e a mão-de-obra necessárias para analisar a estrutura molecular", explica o médico. Segundo Fittipaldi, o Brasil forma especialistas com capacidade para criar medicamentos, mas ainda em uma escala pequena, o que faz com que esses cientistas trabalhem em unidades da Pfizer em outros países.