Título: Setor teme que países restrinjam compra de carne
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2005, Agronegócios, p. B10
Ainda não se sabe como o surgimento do foco de aftosa numa fazenda em Eldorado, no sul do Mato Grosso do Sul, pode afetar as vendas externas de carne bovina e carne suína do Brasil. Ontem, agências de notícias internacionais informaram que a Rússia poderia restringir as compras dos dois itens do mercado brasileiro. Também há expectativa de que a União Européia tome alguma medida, segundo fontes do setor ouvidas pelo Valor. De qualquer forma, a notícia do foco trouxe intranquilidade ao setor exportador. O assunto dominou as conversas na feira de Anuga, naAlemanha, onde os principais exportadores brasileiros de carnes estão para fechar negócios. Apesar de a notícia só ter sido divulgada ontem, representantes da Abiec (reúne exportadores de carne bovina) que participam da feira já sabiam do foco desde o fim de semana. Ontem, o presidente da Abiec, Pratini de Moraes, disse, via assessoria, estar tranquilo porque as medidas para controle do foco haviam sido tomadas pelo Ministério da Agricultura. Ele vai se pronunciar hoje sobre possíveis efeitos. O presidente da Abipecs (reúne exportadores de carne suína), Pedro Camargo Neto, disse que a maior preocupação é com a reação da Rússia ao surgimento do foco. O país é o principal cliente do Brasil em carne suína e também em carne bovina. Pelo protocolo de exportação acertado com os russos, em caso de aftosa num Estado, a região fica dois anos sem exportar e os vizinhos, um ano. Nesse caso, apenas Santa Catarina e Rio Grande do Sul poderiam continuar vendendo carne suína à Rússia, pois não fazem divisa com o Mato Grosso do Sul. E apenas Tocantins poderia vender carne bovina ao país, observou Camargo. Ele disse que o governo irá negociar com a Rússia a mudança no acordo sanitário, que faz exigências que não se justificam já que o Brasil tem "dimensões continentais". Ontem, Minas Gerais, Paraná e São Paulo fecharam suas divisas com o Mato Grosso do Sul. A reunião de representantes da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados com o ministro da Fazenda, Antônio Palocci - que tinha como pauta o pedido de liberação de recursos para as safras 2004/05 e 2005/06 - , acabou se concentrando na discussão de medidas imediatas para a área de defesa sanitária. O deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), presidente da Comissão, disse que os parlamentares solicitaram a liberação de recursos para contratação de veterinários para inspecionar as áreas atingidas e outras ações emergenciais. "Ainda não estamos falando em valor porque não dá para dimensionar a demanda real", disse Caiado. O assunto volta a ser discutido pelo governo em Brasília hoje (dia 11). (Colaboraram Marli Lima, de Curitiba e Cibelle Bouças, de São Paulo)