Título: Ruralistas questionam a atuação do Ministério
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2005, Agronegócios, p. B10

A crise aberta pelo caso de febre aftosa em Mato Grosso do Sul colocou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, no centro da briga política entre o governo e a bancada ruralista. "Como pode uma fraqueza desse tamanho? O governo está querendo que ele se demita", resume a deputada Kátia Abreu (PFL-TO), presidente da Federação de Agricultura de Tocantins e uma das líderes dos ruralistas. Considerados aliados de primeira hora do ministro no Congresso, a maior parte dos deputados e senadores ruralistas está irritadíssima com a atuação de Rodrigues e com o que consideram "total descaso" do governo com o setor. "Literalmente, não deram nada para ele até agora. Mas o ministro só está interessado no biodiesel", afirma a deputada. Os ruralistas reclamam que o governo também não trabalhou para rever um acordo com a Rússia que permite embargar grãos dos Estados vizinhos. "A equipe técnica dele é fraquíssima", afirmou o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO). O caso ocorreu quando houve a descoberta de um foco de aftosa em Monte Alegre (PA). A bancada quer arrancar do governo um compromisso para tentar na Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) uma espécie de cinturão sanitário num raio de 100 km de Eldorado (MS) para evitar o prejuízo aos Estados vizinhos. Nas conversas com o governo para desbloquear recursos do orçamento, os parlamentares descobriram que não seria possível aditar os convênios já feitos com 18 Estados para combater a aftosa. Há R$ 79 milhões contingenciados. Os ruralistas querem destinar R$ 59 milhões para Mato Grosso do Sul e Estados limítrofes. Os ruralistas prometem bater forte, "e muito duro", no ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O ministro Roberto Rodrigues tem evitado reclamações públicas sobre os cortes e tenta, desde o início do ano, recompor os recursos. Mas os esforços não têm surtido efeito. "Pelo amor de Deus. Tem que ter um mínimo de visão", afirma o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS). O ministro Roberto Rodrigues, segundo amigos e auxiliares, já pensou seriamente em deixar o governo porque considerava-se desprestigiado. Nos últimos dias, porém, tem-se mostrado disposto a permanecer no governo por lealdade ao presidente Lula. Mas a distância com seus correligionários tende a aumentar, avaliam os ruralistas. Ronaldo Caiado afirma que o caso de aftosa trará um prejuízo de R$ 4 bilhões até o fim deste ano. "Esse é o valor potencial das exportações de carnes brasileiras", disse. O deputado Waldemir Moka (PMDB-MS) afirma que o governo tem dado "pouca atenção" ao trabalho de defesa agropecuária. Segundo ele, o Mato Grosso do Sul recebeu R$ 1,973 milhão para essas ações entre 2003 e 2005. De 1999 a 2002, segundo ele, foram repassados R$ 8,145 milhões. "Regredimos de forma violenta na liberação de recursos para a defesa", afirmou. Os ruralistas também estão preocupados com o critério de liberação de recursos em parcelas, de acordo com o cumprimento das metas pelos Estados. "Os executores das ações de defesa ficaram novamente de pires na mão à espera do conta-gotas federal", afirmou Heinze. (MZ)